Finalmente havia chegado o
feriado. Seriam quatro dias para aproveitar fazendo caminhadas por trilhas em
meio a mata fechada. Era um daqueles programas que recarregam as energias, que
demandam cuidados e algum planejamento.
Passei um bom tempo
pesquisando as melhores trilhas para caminhada nas regiões mais próximas. A
maioria delas eu já havia passado pelo menos uma vez. Uma delas eu ainda não
conhecia. Alguns trilheiros contam que no caminho é possível encontrar lagos e
quedas d’água. Era o cenário perfeito para a minha próxima caminhada.
Fui de carro até o ponto
máximo permitido. Era um camping, bem estruturado e movimentado. Estacionei o carro,
retirei minha mochila, troquei meu calçado e me preparei para a caminhada.
Seriam 14km percorridos até o final da trilha escolhida.
O cenário era perfeito. A
temperatura amena, dia ensolarado, pessoas indo e voltando. No início a trilha
era larga e plana. Adentrando a mata, ficava mais estreita e com obstáculos. O
terreno já não era tão plano e o sol cada vez menos presente. Alguns poucos
raios de luz solar se deitavam sobre a trilha, apenas. O som das folhas ao
vento e dos pássaros era sinfonia. Tudo aquilo me envolvia de tal forma que o
stress já nem mesmo era lembrado. Como é bom ouvir o som do silêncio e deixar
que a alma dance naqueles acordes.
Pouco mais de uma hora de
caminhada e aos poucos outros sons começavam a aparecer. Parecia o som de um riacho.
Caminhei em direção ao som, como se fosse um mosquito atraído pela luz de uma lâmpada.
Desci um barranco, tropecei em raízes de árvores quase enterradas que invadiam
a trilha, rolei pelo chão, arranhei meus braços, mas consegui chegar. Era um
rio. Nele havia pedras de todos os tamanhos. O nível do rio estava baixo e a
água totalmente limpa corria suave em torno das pedras, como crianças no parque
numa tarde de sábado. Aproveitei para sentir a temperatura da água, lavar as mãos e o
braço que pouco sangrava pelos arranhões. Fiquei ali por alguns instantes,
aproveitando aquele ponto de paraíso. Decidi subir o rio pela margem. Não havia
trilha, o que atrasaria minha chegada ao final do percurso, mas parecia recompensador.
No caminho tortuoso ia me reencontrando. Sentia reconectar a vida. Meu suor
naquela mata era diferente daquele que tinha em dias quentes quando saia do
escritório. Era um abraço da natureza em forma de gotículas que brotavam dos meus
poros.
Duas horas de caminhada pela
margem e o som das águas ficava mais robusto. Era claramente o som de uma queda
d´água. Por ter saído da trilha e percorrido a margem do rio, não havia
encontrado outras pessoas pelo caminho. Depois de uma curva no rio e de algumas
árvores enormes para desviar, finalmente cheguei a um lago. Ao fundo, um paredão
de pedra que era banhado por uma cascata. Era possível ver os degraus finais da
cascata, mas não era possível ver onde começava. O lago era relativamente
grande e não havia pessoas no final da trilha. Nesse ponto do caminho o sol
ganhava um grande espaço para mostrar sua majestade. Sentei as margens do lago,
querendo ouvir o som da queda d’água, que de tão alto sobrepunha o som das folhas.
Estava cansado, mas feliz. Deitei-me ali mesmo para aproveitar aquele momento,
que foi interrompido por som de passos. Ela apareceu da trilha. Estava com
biquini e caminhava em direção ao lado para tomar um banho naquela água fria e
límpida. Passou por mim, lançou um olhar, deu um sorriso e entrou na água. Não
pude deixar de perceber a beleza daquele sorriso. O sol dava ainda mais brilho
naquele corpo cuidadosamente esculpido e de pele morena. Seus olhos eram castanhos, cabelos pretos esvoaçantes e que iam até pouco abaixo do ombro. Seios médios e curvas sinuosas pelo corpo que me prendiam o olhar. O coração disparou
vendo-a entrar na água. Fiquei ali, meio desconcertado, mas firme em aproveitar
aquele instante. Depois de alguns minutos, Ela saiu da água e veio em minha
direção. Estendeu a mão, me convidando para segui-la. Eu não estava disposto a
entrar na água, mas chegar mais perto da margem era bem possível. Ela me levou
até mais próximo da margem e com cuidado molhou os arranhões, limpando-os. “Eu
vou cuidar disso aqui”, dizia com voz doce. A água que percorria meu braço parecia
não estar fria. Ela se sentou ao meu lado e começamos a conversar. O papo fluiu
natural e encantadoramente. “Seria Iara, a sereia dos rios brasileiros?”,
pensei. Ela mostrava ser afetuosa. Por várias vezes procurava me tocar. Aos
poucos chegava cada vez mais perto de mim. Por fim, se envolveu no meu braço e
deitou sua cabeça em meu ombro. Seguíamos conversando quando Ela me interrompeu.
Me convidou para tirar a roupa e entrar na água. Olhei em volta. Ninguém. Ela
viu que fiquei um pouco intimidado pelo convite inusitado. Chegou perto de mim
e me beijou. Tirou minha roupa vagarosamente. Fui recíproco. Entramos no lago.
A água era fria, mas assustadoramente gostosa. Ela foi mais próxima da queda
d´água, onde os pés já não alcançavam o fundo. Me chamou e eu fui. Me entreguei
de vez ao inesperado. Com calma, nadou para perto de mim, envolveu seus braços
em volta do meu pescoço e chegou seu corpo junto ao meu. Suas pernas envolveram
minha cintura. A respiração de ambos aos poucos ficava mais intensa. Os olhos
se cruzavam e o calor dos corpos aumentava. Longos beijos eram trocados. Não
foi difícil esconder minha excitação, da mesma forma que ela também estava. A
pele arrepiada, a intensidade dos toques e os gemidos que se confundiam com os
sons da natureza, completavam o cenário do nosso primeiro contato. Ficamos ali
por longos minutos, que mais pareciam segundos.
Saímos do lago abraçados. Fomos
para um lugar com sombra, nos vestimos e ficamos conversando. Tantos assuntos
apareceram, mas não sabia de onde Ela era. Perguntei e ela respondeu: “Longe de
tudo, mas perto de você”. Uma resposta vaga que foi precedida de um beijo. Ela
botou a mão em meu peito e me fez deitar na grama. Me beijou novamente e de um
jeito que jamais vou esquecer. De repente se levantou e caminhou em direção a
mata. Sobre minha mochila um bilhete. “Me liga. Quero teus beijos pra mim”.
Olhei em volta e não a encontrei mais.
Eu precisava me reconectar,
mas aquele feriado me mostrou que a natureza reserva boas surpresas que levam a
graus elevados de conexão pura.
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