Ainda sou capaz de ouvir o som
das ondas do mar daquela tarde ensolarada de sábado.
Eu vivia um momento muito
particular e o que mais procurava era um pouco de silêncio e tranquilidade. Em geral
o contato com a areia, com o vento do litoral e com a água do mar me faz
reconectar. É como viver na prática essas frases prontas que encontramos na
internet, tipo “não é água com açúcar que acalma, é água com sal”. Pra mim, uma
espécie de mantra que resolve.
No celular, várias chamadas perdidas
e mensagens enviadas dos amigos. Eles sabiam exatamente como eu me sentia e
faziam de tudo para me dar um novo ânimo. “Cara, hoje é o aniversário da Yasmim.
Ela convidou a galera toda. Vamos?”, “Te anima, toma um banho, te veste e vamos
no aniversário da Yasmim”, “Partiu aniversário da Yasmim. Tua chance de
renascer, meu irmão”, eram algumas das mensagens que eu havia recebido.
Eu procurava silêncio, meus
amigos queriam me levar para o sentido contrário. Em tese, reencontrar os
amigos, celebrar, dar boas risadas e jogar conversa fora era uma boa opção. A
oportunidade de sair da minha apatia. As oportunidades surgem exclusivas. Podem
até surgirem novas, mas nunca serão as mesmas. Passam como o vento. Sopram e
vão embora. Você pode aproveitar ou simplesmente se esconder.
Fiquei caminhando na praia
naquele fim de tarde. Era um momento só meu. Fiquei na orla até o pôr-do-sol. Confesso
que a insistência dos amigos me inclinava para sair com eles durante a noite. Yasmim
era namorada de um dos meus amigos de faculdade. Aliás, aquela turma conseguiu
a façanha de permanecer unida, mesmo depois de tantos anos após a formatura.
Dali saíram alguns casamentos. Famílias foram se formando e nossos encontros
foram ficando cada vez maiores. Aquela noite certamente encontraria boa parte
daquela imensa turma.
Resolvi voltar para casa.
Ainda não muito decidido, caminhei a passos lentos. Procurei notar os detalhes
de cada coisa. Desde o vento que já diminuíra, as pessoas caminhando, o
cachorro que corria pela areia, os idosos sentados nos bancos do calçadão
enquanto conversavam, a lua que já aparecia tímida, mas sorridente, o som das
ondas, até mesmo o som dos meus passos na areia. Eu queria absorver o máximo de
experiências daquele momento. Afinal, somos instantes. Então, façamos valer a pena.
Cheguei em casa, liguei uma
música e fui tomar um banho. Daqueles que a água quente abraça o corpo num
ritual mágico de ousadia, leveza e relaxamento. As mensagens dos amigos fizeram
meus pensamentos revisitarem os tempos de faculdade. Lembrei das festas e
viagens que fizemos, além dos acampamentos que organizamos. Era um saudosismo
que insistia ficar. A impressão era que a isca havia sido jogada e o peixe aqui
estava quase sendo fisgado. Saí do banho e sem dar muita chance a inércia, fui
procurar uma roupa. Me decidi: iria rever a turma.
Passei mensagem no grupo,
dizendo que os encontraria na casa da Yasmim. A reação foi imediata. Corri até
o shopping, comprei um presente e fui pra festa. Yasmim morava em um casarão.
Aos fundos, um imenso jardim, uma piscina e a área onde estava acontecendo a
festa. Música boa, gente rindo e conversando. Fui chegando aos poucos, quando
senti uma mão em meus ombros. Yasmim chegou por trás de mim. Me viu chegar e
foi me encontrar. Junto dela estava o Ricardo, meu colega de turma, que chegou
me abraçando e oferecendo uma bebida. Abracei Yasmim e entreguei-lhe o presente.
Yasmim falou bem perto do meu ouvido que precisava me mostrar uma coisa. Olhei
com ar de estranheza. Com tanta gente pra atender, ela ainda queria me mostrar
algo? Na verdade, não era algo, mas alguém. Yasmim segurou minha mão e me levou
até um grupo de pessoas que estava próximo a piscina. No curto percurso,
percebi alguém que se destacava. Ela estava lá, com seus sapatos de salto alto,
pernas estonteantemente esculpidas, vestido preto que combinava com sua linda
cor de pele. Curvas que se desenhavam desde o início do calcanhar, passavam
pela cintura, seios, ombros, pescoço, até chegar a cabeça. Um sorriso que tinha
brilho próprio e o olhar que transpassava qualquer tentativa de lucidez. Seus
cabelos leves e soltos, caiam pelos ombros.
Tentei entrar na conversa, mas
meus olhos insistiam encontrar Ela. Não era difícil perder a concentração. Como
se fosse combinado, aos poucos o grupo foi se dispersando, as conversas iam
ficando mais rasas, até que eu e Ela ficássemos a sós, ainda próximos a
piscina.
Fiquei extasiado, mas procurei
me manter centrado. Conversamos demoradamente. Ficamos juntos durante a festa. Caminhamos
pelo jardim e tive a oportunidade de reencontrar os amigos. Encontramos uma
mesa de bistrô onde pudemos permanecer juntos e conversando. Num momento de
distração, nossas mãos se encontraram sobre a mesa. Quase de imediato voltamos
nossos olhares um ao outro, até que ouvi um “posso?” saindo daqueles lábios, me
pedindo pra segurar pela mão. Retribuí o sorriso e acenei em sinal de positivo.
Não há como esquecer aquele toque. Suas mãos eram macias e seus dedos buscaram
entrelaçar entre os meus. As horas passaram como o vento. Encontramos alguns
pontos em comum na conversa que fluiu leve. Aos poucos os convidados se despediam.
O lugar foi ficando cada vez mais vazio. Yasmim foi ao nosso encontro e perguntou
se Ela tinha como voltar. “Não, estou sem carro”, disse. Eu me ofereci para dar
uma carona, mesmo sem saber o quão longe seria o destino. Ela deu um sorriso
discreto e nem precisou falar para mostrar que havia aceitado.
As oportunidades surgem
exclusivas. Podem até surgirem novas, mas nunca serão as mesmas. Passam como o
vento...
Nos despedimos de Yasmim,
Ricardo e dos demais amigos que ainda estavam por ali. Entramos no carro, nos
olhamos e nos beijamos. Indescritível aqueles lábios. Tentando manter a
serenidade perguntei: “pra onde?”. “Pra onde você quiser, desde que seja com
você”, recebi como resposta. Rodei pelas ruas de forma aleatória. Ela apoiou
sua mão sobre minha perna, enquanto eu dirigia. Queria sentir sua presença o
maior tempo possível. Chegamos a um ponto da orla onde não havia calçadão, mas
uma grande faixa de areia interrompida por dunas. Não havia movimento, nem a
presença de outros carros. Parei, desliguei o motor e os faróis. Agora éramos
nós e a noite. A mão, antes apoiada sobre minha perna, agora apertava minha coxa.
A outra mão buscou meu rosto, puxando para perto de si e me beijar. Começou
leve e foi ficando cada vez mais intenso. Sua boca buscava descobrir cada traço
do meu rosto até encontrar espaço no pescoço. Os beijos foram ficando lascivos
e intensos. Eu retribuí na mesma moeda, afinal intensidade com intensidade se
paga. Ela, vagarosamente abriu minha camisa e a tirou. Passou suas mãos macias
sobre meu peitoral até a altura da cintura. Como um ritual, repetiu o mesmo
gesto com as demais peças da minha roupa. Com atitude dominadora, não deixou
que eu fizesse o mesmo com as roupas dela. Entrei no jogo. Vamos brincar. Com
toques macios, queria conhecer cada espaço do meu corpo. A cada lugar visitado,
um beijo. A cada carinho, uma verdadeira viagem. Foi assim até se sentir quase
satisfeita. Quando achei que Ela iria desistir, despiu-se completamente. Não,
eu não poderia tocá-la. No máximo, beijos em lugares que Ela escolheria. O jogo
continuava. Ela veio sobre mim e, sem poder tocá-la, mostrou-me a regência da
orquestra que aquele corpo havia se tornado. Movimentos leves que se alternavam
com intensidade e força. Nosso suor se misturava naquele pouco espaço do carro.
As horas, que haviam passado rápido na festa, eu queria que fossem generosas,
passando bem devagar. Queria aproveitar cada detalhe de cada segundo. Aquele
momento corroborou com a fluência da nossa conversa durante a noite.
Eu queria absorver o máximo de
experiências daquele momento. Afinal, somos instantes. Então, façamos valer a pena.
Era quase dia. A lua,
sorridente, já se despedia para dar lugar ao astro-rei. Levei Ela para casa.
Trocamos contatos e marcamos novo encontro. Afinal, intensidade com intensidade
se paga.
João Borges
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