Eu tinha acabado de sair de
uma reunião quando o celular vibrou no meu bolso. Era uma notificação de
mensagem. Enquanto alcançava o celular, minha mente pedia que fosse alguma
coisa dela. No lábio, meu sorriso discreto denunciava o quão satisfeito eu
ficava toda vez que ela fazia qualquer tipo de contato. Não deu outra. “Antes
de vir pra casa passei na Adega e comprei um vinho. Acho que você vai gostar”.
Não era aniversário ou qualquer outra data comemorativa. Tínhamos o hábito de
celebrar qualquer coisa, por mais simples que fosse. E nem sempre precisava de
uma bebida especial. Bastava que estivéssemos juntos.
Lembro de uma vez em que eu
quebrei o braço. Era uma noite chuvosa e estávamos voltando do hospital. No
caminho, o pneu do carro furou e não havia ninguém na rua que pudesse nos
ajudar. Ela, em toda sua vida, nunca havia trocado um pneu furado e aconteceu naquele
momento, o mais inapropriado possível. Fomos à luta. Com um braço engessado e
ainda sentindo um pouco de dor, virei ajudante. Não conseguiria fazer muito.
Com esforço e alguma orientação, ela conseguiu fazer a troca. O resultado foi dois
corpos completamente molhados e sujos, um gesso estragado e um pneu trocado.
Sucesso total! Não havia vinho, mas havia uma garrafinha de água
mineral, ainda na sacola de supermercado, no banco de trás do carro. Com a
satisfação do dever cumprido, brindamos com meio litro de água, antes, claro, de voltar
ao hospital para trocar o gesso. Isso ilustra como qualquer coisa era motivo pra
comemorar. O motivo era estarmos juntos em tudo.
Tão bom quando encontramos a
pessoa em que “o santo bate”. Sentimos a mesma frequência desde o primeiro dia.
Nos encontramos num momento da vida em que ambos tinham passado por um
reencontro em si mesmos. Antes disso, cada qual viveu seus perrengues pessoais.
Sofreram por quem não merecia tanto. Derramaram lágrimas e depois se arrependeram.
Enfim, aqueles momentos que fazemos o possível para tirar da memória, mas que
foram importantes para chegar ao que somos. Depois dos tropeços, enxergaram que
quem merecia atenção e carinho eram eles mesmos, cada um em si. E quando encontramos
esse ponto de equilíbrio fundamental, aprendemos que outra pessoa na mesma vibe
virá naturalmente.
O sorriso no canto da minha boca ainda estava lá. Não via a hora de chegar em
casa. Restava saber qual o motivo da nossa comemoração, além de estar novamente
juntos.
JOTA B
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