O sábado amanheceu com céu
azul e poucas nuvens. Despertei cedo, pois o sol ainda nem tinha surgido de
trás do morro que fica perto de onde moro, porém já estava claro. Resolvi fazer
uma caminhada. Logo eu, um sedentário daqueles que não faz exercícios há
décadas.
Antes, porém, precisava resolver
uma pequena discussão.
Cérebro: Que dia
lindo! Perfeito pra uma caminhada. Partiu?
Coração: Cê
tá louco? Você sabe que meus batimentos estão acostumados ao ritmo entre 90 e
100 vezes por minuto. Caminhar seria ultrapassar esse limite!
Resto do Corpo: Alguém falou em caminhada? Tem certeza? Eu
quero ficar aqui na cama... só mais cinco minutinhos...
Cérebro: Vamos
lá, pessoal! Olha que dia gostoso aguardando a gente lá fora. Uma caminhada fará
bem pra oxigenar...
Coração: Ah
tá! Você fala isso porque sabe que sou eu que trabalho duro pra mandar sangue
oxigenado aí pra você, né? Nada disso. Mantenha o foco em 100. Foco em 100,
cérebro!!
Cérebro: Que
nada! Resto do Corpo, pode começar a mexer esses músculos aí. Vamos tomar um
banho, comer algo leve, hidratar e vamos caminhar.
Resto do Corpo: Você
tem certeza? Aqui tá tão bom...
Coração: Tá
vendo? O Resto do Corpo está certo. Vamos ficar aqui quietos e manter o ritmo.
Se quiser, faça uma caminhada até o banheiro, depois até a cozinha e em seguida
até o sofá. Que tal?
Cérebro: Nada
disso. Já encaminhei comandos para o Resto do Corpo se mexer pra irmos
caminhar.
É, parece que o cérebro estava
mesmo disposto a criar movimento, mas não foi fácil. Coração e Resto do Corpo
não estavam colaborando. Foi necessária uma dose de imposição para que o Resto
do Corpo pudesse se mexer. O Coração, claro, não tinha outra escolha a não ser
acompanhar.
Banho tomado e refeição da
manhã feita. Era hora de preparar a caminhada. Uma sessão de alongamento nas
pernas, calçar um par de tênis e... foi.
Cérebro: Oba!
Olha só que dia perfeito.
Resto do Corpo: É
mesmo. Tá difícil até pra olhar, de tanta claridade. Vamos voltar para o
apartamento?
Cérebro: Que
nada. O mais difícil já fizemos. Agora é só se movimentar. Vai lá, Resto do
Corpo!
Resto do Corpo: Tá,
eu vou. Mas não diga que eu não avisei.
Cérebro: É
uma caminhada aqui perto, pessoal. Daqui a pouco já estaremos de volta.
Coração: Já
que estamos aqui, vamos. Eu nem lembro direito como trabalhar com batimentos
acima dos 100, mas tudo bem...
Depois de trezentos metros de
caminhada...
Coração: O
que está acontecendo? Você está caminhando ou correndo, Resto do Corpo?
Resto do Corpo:
Estou caminhando. Dizem que o início da caminhada é só aquecimento, mas já estou
sentindo minhas panturrilhas. Cérebro, vamos voltar?
Cérebro: Voltar?
Que é isso? Estou me sentindo muito bem. O Coração tá fazendo um baita trabalho
mandando sangue bem oxigenado pra cá. Vamos em frente...
Coração: Fala
assim porque não sabe como está a correria aqui.
Resto do Corpo: Eu
já estou começando a transpirar. Recebeu essa informação, Cérebro?
Cérebro: Recebi
sim! Só estou estranhando que isso começou muito cedo. A caminhada recém
começou.
Logo em frente encontrei uma
trilha com terreno inclinado. Seria uma subida de aproximadamente 2km. A discussão
continuava acirrada...
Cérebro: Uau!
Uma trilha com inclinação. Vamos subir!
Coração: Inclinação?
Agora lascou. O Resto do Corpo vai precisar fazer mais força – coisa que ele
não tem muita – e eu vou precisar trabalhar dobrado pra dar conta.
Cébrebroooooooo
Resto do Corpo:
Coração desculpa, mas eu precisei atualizar a rota. Recebi um comando do
Cérebro pra começar a subir essa trilha inclinada.
Coração:
Resto do Corpo, você viu alguma placa dizendo quantos metros precisaremos
caminhar nessa trilha até chegar?
Resto do Corpo: Vi
uma placa dizendo que são pouco mais de 2km. E agora?
Cérebro: O
que vocês estão reclamando? O desafio nos mantém vivos...
Com um terço da subida cumprida...
Coração: Que
trabalheira! Eu nem lembrava mais como era trabalhar assim pra dar conta de tanto
movimento.
Resto do Corpo: Até
parei de sentir as panturrilhas. Será que isso é bom?
Cérebro:
Vamos lá, pessoal! Vocês estão indo muito bem!
O último trecho da subida é
ainda mais inclinado, o que aumenta o desafio. O cérebro, esperto, evitava ler
as placas que indicavam o aumento da inclinação, mas já sabia o que os
aguardava.
Cérebro: Olha
só... Os últimos 300m de subida. Já caminhamos praticamente 2km nessa trilha.
Parabéns, pessoal!
Resto do Corpo:
Preciso reabastecer o reservatório de água, Cérebro. A água que estava na
garrafinha que você pediu pra trazer, acabou lá atrás.
Coração:
Descanso! Eu preciso de descanso!
Cérebro:
Resto do Corpo, lá no fim da trilha tem uma fonte de água. Vamos fazer o
reabastecimento lá.
Coração:
Descanso... Vamos descansar? Preciso voltar a 100...
Cérebro:
Agora é que vem a surpresa boa. O terreno vai inclinar ainda mais no último
trecho!
Começa o último trecho.
Cérebro:
Resto do Corpo, não precisa ir rápido. Vamos respeitar nosso limite, tá?
Coração: A
caminhada está mais lenta, mas eu estou fazendo mais força... Me ajudeeeeemmmmm
Resto do Corpo: Que
difícil! O pulmão tá mandando reclamação dizendo que o ar é quase insuficiente.
Os poros estão desesperados porque já deram um banho no corpo todo e precisam
de mais água.
Cérebro: Resto
do Corpo, olha! Já estamos quase no final da trilha. Falta só mais um pouco.
Vamos em frente pra chegar na fonte. Lá é o topo e vamos parar para descansar.
Com algum esforço, cheguei ao
topo do morro. O final da trilha reserva um mirante espetacular. A vista é
linda e é possível ter visão de toda a cidade. Tomei água, descansei e fiz uma
caminhada regenerativa por uma trilha plana, construída em volta do mirante
para os visitantes terem contato com a vegetação nativa.
Ali era a metade da caminhada.
Faltava voltar pra casa. O retorno foi mais tranquilo. Depois do esforço da
subida, descer seria o que menos daria trabalho.
Cérebro:
Resto do Corpo, já estamos quase chegando em casa. Já consigo ver o condomínio
daqui.
Resto do Corpo:
Ainda bem. Não vejo a hora de chegar no meu sofá.
Coração: Tô
até tonto de tanto que trabalhei.
Cérebro:
Chegamos, viu? Caminhada cumprida com sucesso! Parabéns, pessoal!! Resto do
Corpo, pode fechar a porta do apartamento e tirar o tênis.
Resto do Corpo: E
tirar a camisa, o short, tomar um banho...
Cérebro: Isso.
Estamos precisando. Coração, está tudo bem? Você ficou quieto na volta pra
casa.
Coração: Está
tudo bem sim. Só estou esperando meu ritmo voltar ao normal.
Cérebro: Eeee,
que banho bom.
Resto do Corpo:
Verdade. Deixa a água cair a vontade, por favor...
Coração: E
aí, já acabaram? Meu ritmo já está normalizado.
Cérebro:
Claro. O próximo passo é deitar um pouco no sofá. Ufa!
Coração: Ufa!
Resto do Corpo: Ufa!
O domingo amanheceu com céu
azul e poucas nuvens. Dia perfeito para uma caminhada.
Coração: Cê
tá louco?...
Texto e Foto: João Borges
Obs.: Visitem o Mirante de Joinville/SC
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