sábado, 9 de fevereiro de 2019

SOMOS INSTANTES





Ainda lembro o dia em que estava no aeroporto. Aquele vasto saguão, pessoas indo e vindo, monitores de vídeo informando os atrasos dos voos por conta da chuva forte que caía. Já havia despachado malas e equipamentos e não havia outra coisa a ser feita senão esperar. Cheguei com a antecedência necessária, mas como havia atraso no meu voo, aproveitei o tempo e fui tomar um café. Cheguei a um aconchegante bistrô e, com certa dificuldade, encontrei uma mesa. Da minha bagagem de mão, tirei um livro e continuei a leitura enquanto aguardava a chegada do meu café. Tentei disfarçar, mas confesso que aquele momento não me convidou a mergulhar na história do livro. Claro, havia um motivo. Logo ao chegar, percebi que Ela estava sentada numa mesa próxima. Havia muito tempo que não nos encontrávamos. Namoramos durante quatro anos e foi intenso. Uma história que ficou marcada na história. Depois do fim do relacionamento, não havíamos mais nos encontrado.

Na mesa do bistrô estava eu, um café, um livro e milhões de lembranças. Seria clichê dizer que um filme passou na mente? Talvez, mas foi exatamente isso que aconteceu. Temos gostos muitos parecidos. Um deles é viajar. Aquele ambiente de aeroporto me fez voltar no tempo e relembrar algumas das loucuras que fizemos. Uma dessas foi nesse mesmo aeroporto. Meu voo estava marcado para a madrugada. Saímos de casa quase onze horas da noite. Tempo mais que suficiente para o check-in e despacho da mala. No caminho encontramos ruas vazias. Enquanto eu dirigia, Ela tentava tirar minha concentração me olhando desejosa e passando suas mãos em minha perna. Quanto mais próximos estávamos do aeroporto, mais ousadas eram as suas carícias. Chegamos ao estacionamento e procurei uma vaga mais distante e discreta possível. A essa altura, meu corpo já havia reagido completamente as carícias recebidas durante o trajeto. As películas escuras nos vidros do carro contribuíam para um ambiente mais privativo, mas não o suficiente para impedir a chegada de alguém. Essa mistura era muito excitante para ambos. Sem abrir as portas, Ela passou para o banco traseiro. Não eram necessárias palavras para ouvir me chamar. Minha camisa já estava praticamente aberta. Faltavam apenas dois botões. Também fui para o banco de trás, cheguei bem perto o olhei no fundo dos olhos dela. Era possível sentir a respiração mais forte. Beijei-a intensa e loucamente. Tirei sua roupa e aproveitei o pouco tempo que ainda me restava para mergulhar fundo naquelas curvas que sempre em encantaram. Explorei cada poro da pele dela, que sentia arrepios durante minha expedição por aquele mundo repleto de docilidade e certa malícia. Ela retribuiu cada gesto de carinho com mais carinho. A entrega era plena, apesar de estarmos dentro de um carro em pleno estacionamento de um aeroporto. Para nós, naquele momento não importava o lugar, mas o próprio momento. Somos instantes, ali era o agora e necessitava ser vivido.

Com o tempo estourando, nos refizemos, saímos do carro e pegamos as malas. O atendente do estacionamento nos olhou com aquela expressão típica de saber que aquela demora dentro de um carro fechado, tinha bom motivo.
Ela me acompanhou durante o check-in e permaneceu comigo até a hora da entrada na sala de embarque. Minha volta estava prevista para o dia seguinte, mas a intensidade que colocávamos nos momentos juntos, dava a impressão que a viagem demoraria meses.

Ainda no bistrô, fui acordado das lembranças com um cumprimento. Quando percebi, Ela estava em pé ao meu lado. Olhei pra cima e, sem tempo de reação, ganhei um beijo. Aqueles inesquecíveis lábios macios foram tão rápidos que não pude negar o gesto. Com olhar carinhoso, Ela disse que ouviu a confirmação do seu voo e estava indo para a sala de embarque. “Te vejo por aí”, foi tudo o que ouvi naqueles poucos segundos. Poucos e eternos segundos.

Mais uma vez a vida me mostra a oportunidade de ser intenso. De fato, somos instantes.

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PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...