Ainda lembro o dia em que
estava no aeroporto. Aquele vasto saguão, pessoas indo e vindo, monitores de
vídeo informando os atrasos dos voos por conta da chuva forte que caía. Já
havia despachado malas e equipamentos e não havia outra coisa a ser feita senão
esperar. Cheguei com a antecedência necessária, mas como havia atraso no meu
voo, aproveitei o tempo e fui tomar um café. Cheguei a um aconchegante bistrô e,
com certa dificuldade, encontrei uma mesa. Da minha bagagem de mão, tirei um
livro e continuei a leitura enquanto aguardava a chegada do meu café. Tentei
disfarçar, mas confesso que aquele momento não me convidou a mergulhar na história
do livro. Claro, havia um motivo. Logo ao chegar, percebi que Ela estava
sentada numa mesa próxima. Havia muito tempo que não nos encontrávamos. Namoramos
durante quatro anos e foi intenso. Uma história que ficou marcada na história. Depois
do fim do relacionamento, não havíamos mais nos encontrado.
Na mesa do bistrô estava eu,
um café, um livro e milhões de lembranças. Seria clichê dizer que um filme
passou na mente? Talvez, mas foi exatamente isso que aconteceu. Temos gostos
muitos parecidos. Um deles é viajar. Aquele ambiente de aeroporto me fez voltar
no tempo e relembrar algumas das loucuras que fizemos. Uma dessas foi nesse
mesmo aeroporto. Meu voo estava marcado para a madrugada. Saímos de casa quase
onze horas da noite. Tempo mais que suficiente para o check-in e despacho da
mala. No caminho encontramos ruas vazias. Enquanto eu dirigia, Ela tentava tirar
minha concentração me olhando desejosa e passando suas mãos em minha perna.
Quanto mais próximos estávamos do aeroporto, mais ousadas eram as suas carícias.
Chegamos ao estacionamento e procurei uma vaga mais distante e discreta
possível. A essa altura, meu corpo já havia reagido completamente as carícias
recebidas durante o trajeto. As películas escuras nos vidros do carro contribuíam
para um ambiente mais privativo, mas não o suficiente para impedir a chegada de
alguém. Essa mistura era muito excitante para ambos. Sem abrir as portas, Ela
passou para o banco traseiro. Não eram necessárias palavras para ouvir me
chamar. Minha camisa já estava praticamente aberta. Faltavam apenas dois
botões. Também fui para o banco de trás, cheguei bem perto o olhei no fundo dos
olhos dela. Era possível sentir a respiração mais forte. Beijei-a intensa e
loucamente. Tirei sua roupa e aproveitei o pouco tempo que ainda me restava
para mergulhar fundo naquelas curvas que sempre em encantaram. Explorei cada poro
da pele dela, que sentia arrepios durante minha expedição por aquele mundo repleto
de docilidade e certa malícia. Ela retribuiu cada gesto de carinho com mais
carinho. A entrega era plena, apesar de estarmos dentro de um carro em pleno
estacionamento de um aeroporto. Para nós, naquele momento não importava o
lugar, mas o próprio momento. Somos instantes, ali era o agora e necessitava
ser vivido.
Com o tempo estourando, nos
refizemos, saímos do carro e pegamos as malas. O atendente do estacionamento
nos olhou com aquela expressão típica de saber que aquela demora dentro de um
carro fechado, tinha bom motivo.
Ela me acompanhou durante o
check-in e permaneceu comigo até a hora da entrada na sala de embarque. Minha
volta estava prevista para o dia seguinte, mas a intensidade que colocávamos nos
momentos juntos, dava a impressão que a viagem demoraria meses.
Ainda no bistrô, fui acordado
das lembranças com um cumprimento. Quando percebi, Ela estava em pé ao meu
lado. Olhei pra cima e, sem tempo de reação, ganhei um beijo. Aqueles inesquecíveis
lábios macios foram tão rápidos que não pude negar o gesto. Com olhar
carinhoso, Ela disse que ouviu a confirmação do seu voo e estava indo para a sala
de embarque. “Te vejo por aí”, foi tudo o que ouvi naqueles poucos segundos.
Poucos e eternos segundos.
Mais uma vez a vida me mostra
a oportunidade de ser intenso. De fato, somos instantes.
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