Cheguei no aeroporto e vi no
monitor que o voo chegaria com algum atraso. Só serviu para aumentar um pouco
mais a ansiedade que já tomava conta de mim nos dias que antecederam aquele
encontro.
Nos conhecemos pela internet. Sorrisos
e poses estáticos que mostravam um pouco da rotina. Comentários que davam pequenos
sinais do que seria a essência. Era a impessoalidade com vontade de ser pessoalidade.
As redes sociais permitem essas tentativas, no entanto nada substitui o “olho
no olho”, o toque, o cheiro...
No aeroporto, a espera era
composta de idas e voltas entre saguão principal e a área de desembarque. Mil
pensamentos passavam pela cabeça, que iam desde a troca das primeiras mensagens
até combinarmos passar alguns dias juntos. Aos poucos, a movimentação de
pessoas próximas a área de desembarque aumentava. Conferi o monitor e lá informava
que o avião estava em solo e que o desembarque já iniciara. O coração acelerado
e a ansiedade de ver aquele sorriso eram visíveis.
Quando Ela enfim apareceu, o
mundo ao meu redor perdeu o sentido. Pelo menos momentaneamente. Armou-se de
olhar doce e sorriso que irradiava felicidade. Me desarmou completamente. Até
havia ensaiado discurso, como se isso fosse me dar algum controle sobre a
situação. Nada do tudo que pensei dizer, saiu naquele instante. Toda a
expectativa, pensamentos, ansiedade e os pouco mais de mil quilômetros de
distância entre nossas cidades foram interrompidos num longo e encaixado
abraço. Os corações acelerados combinavam ritmos e se permitiam em beats compassados.
Ainda abraçados, a troca de olhares pedia um beijo. O toque naqueles lábios
macios, substituiu meses e meses de longas conversas madrugada adentro. Nenhuma palavra havia sido dita até então.
Apenas a pura reciprocidade no carinho do encontro.
No caminho para casa,
conversamos sobre a viagem e a expectativa pela programação dos próximos dias.
Como estávamos de férias, tratei de providenciar um roteiro que pudesse mostrar
os lugares mais atraentes da minha região, além dos locais que eu mais gostava
de frequentar. As extensas conversas pela internet permitiram saber que temos
preferências em comum.
Chegando em casa, conduzi Ela
até o quarto e a deixei a vontade para guardar suas malas, tomar um banho e descansar.
Enquanto isso, prepararia o jantar. Já sabia que a correria da viagem não
permitiria uma refeição decente, por isso procurei caprichar no cardápio.
Obviamente o vinho não poderia ficar de fora.
Ela estava bem a vontade.
Saiu do quarto vestindo roupão, deixando a mostra suas pernas bem torneadas. Os
cabelos molhados estavam envoltos num turbante feito com uma toalha. Seus olhos
sorriam livremente, sem esforço. Sentou-se e aproveitou o jantar enquanto
dávamos risadas contando as situações mais inusitadas que ambos haviam passado
na vida. A conversa fluiu solta e leve, como a vida deve ser.
Após o jantar, recolhemos as
louças e tratamos de lava-las. Minha mania por organização não permitia que pudéssemos
relaxar na sala enquanto houvesse louças sujas na cozinha. Ela, a vontade, me
acompanhou. Enquanto conversávamos, eu lavava, ela secava. Simples assim. Em
certos momentos, Ela se aproximava por trás, me abraçava, estendia sua mão até
deixar molhar e, brincando, jogava água em meu abdômen. O jeito leve, o sorriso
fácil e o carinho recíproco faziam aquele instante, mais que especial.
Sentamos no sofá, cada qual
com sua taça de vinho. No ambiente, o som da música era testemunha das
conversas divertidas que, aos poucos eram substituídas por trocas de olhares
que se intensificavam a medida que a noite caía. Palavras eram quase desnecessárias.
O desejo mostrava força através dos beijos que surgiram, misturando carinho,
paixão e lascividade. Nossos corpos conversavam sem palavras. Encaixavam
perfeitamente. Nossas mãos viajavam leves e intensamente pelos corpos quase nus,
intercalando visitas as taças para que o vinho pudesse regar ainda mais aquela
intensidade.
As conversas de vários meses
via internet, deram lugar aos olhares que falavam por si. As telas do computador
e do celular, ao toque. A distância, ao abraço. A vontade, aos beijos. Éramos
um universo, dentro de um quarto do meu pequeno apartamento. Nossos corpos misturavam
o suor e desejo, em movimentos completos. Os sons dos gemidos recheados de prazer, abafavam a
música do ambiente. A madrugada assistiu, passiva. Nada poderia ser feito, a não
ser viver.
Foram noites intensas e dias inesquecíveis. Momentos
eternizados por entrega sem restrições. Na hora da partida, a promessa do
reencontro. Diante do que se apresentava, os pouco mais de mil quilômetros se
transformavam em pouco mais de cem.
E pensar que tudo isso começou
com uma curtida despretensiosa, numa foto em redes sociais.
João Borges
Joinville/SC
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