sábado, 17 de novembro de 2018

HOJE É UM DIA IMPORTANTE



A noite passou num sopro. Acordei assustado e fui direto pegar o celular pra ver a hora. Minha nossa! Estava muito atrasado. Nem ouvi o despertador tocar. O coitado do aplicativo insistiu tanto que até desistiu. Num salto, saí da cama e corri para o banheiro. Tomei um banho em tempo recorde. 

Escovei os dentes, encarei rapidamente o espelho pra ver o estado crítico do cabelo, me vesti com as primeiras peças de roupa que encontrei pela frente e saí. Mais tarde, descobri que minhas meias estavam trocadas e escolhi roupas que dariam inveja a qualquer paleta de cores. Paciência. Agora eu precisava me concentrar em chegar. 

Fome? Sono? A adrenalina do atraso fez esquecer qualquer falta da necessidade básica de se alimentar ou querer alguns minutos a mais de descanso. Foco, foco. Preciso me concentrar em apresentar o melhor trabalho... Trabalho, trabalho. Meu Deus! Esqueci o trabalho e o pen drive sobre a mesa. Caminho de volta, mais atraso. Te concentra, homem! O que mais pode acontecer de errado? 

Deixa ver, coloquei os impressos e o pen drive na bolsa e a bolsa está sobre a mesa. Isso! É só chegar, pegar e voltar. Por que fui insistir em não enviar isso por e-mail? Eu sei, é aquele bendito medo de enviar e alguém se apropriar da sua ideia ou modifica-la antes de apresentar, não é? Foco, homem. Você precisa se concentrar. Logo hoje, que eu preciso apresentar e voltar para preparar a surpresa pra... Espera! A surpresa. Será que minha família preparou a... Deixa pra lá! Você precisa dar atenção a essa apresentação e torcer pra nada mais dar errado. 

O caminho está relativamente livre, ainda bem. O trânsito está ajudando. Vou ligar uma música pra relaxar. Ah, essa música. Me faz lembrar quando encontrei Ela pela primeira vez. Opa! Blitz de trânsito a frente. Será que vão pedir pra parar o meu carro? Por favor, não. Estou atrasado. Essa música está começando a incomodar. Deixa mudar o ritmo. A fila da blitz está diminuindo, já vejo os policiais. Vou baixar o volume do som. Ufa! Passei. 

Vamos em frente. Estou quase lá. Vish, acho que vai chover, e logo. Cadê meu guarda-chuva? Não é possível. Não está no carro. Tomara que não chova até eu entrar no escritório. Vou desligar o som, está incomodando. Gotas no para-brisa do carro. Chuva. Meu Deus! 

Cheguei, mas a chuva está intensa. E agora? Acho que se der uma corrida, não chego tão molhado na recepção. Vamos ver, onde tem vaga pra estacionar? Hoje todo mundo resolveu vir de carro e estacionar aqui. Opa. Achei uma vaga. Sorte a minha que não fica tão longe da entrada. Vamos lá. Coragem. Corrida, recepção, apresentação e vitória! Eu consigo. 

Abro a porta do carro e sou lavado por um carro que acabou de passar numa poça d’água. Meus nervos estão a flor da pele, mas eu preciso muito de concentração. É importante que você apresente. Sigo em frente. Entro na recepção e percebo que há apenas o vigilante. Ele me cumprimenta e eu respondo cordialmente. Preciso apresentar um trabalho para a diretoria da empresa. O vigilante olha com ar desconfiado. Diretoria? Hoje não há ninguém aqui. Hoje é domingo. Poderia voltar amanhã? 

Meu corpo treme inteiro. Não sei o que fazer. Saio correndo, mas a porta automática não abre a tempo. Bati a cabeça no vidro da porta e caí meio tonto. Ao longe um som intermitente se fazia ouvir. Aos poucos vou recobrando a consciência. Como vim parar na minha cama? Nossa! É o som do despertador. Ufa. Foi só um sonho. Estou a salvo. Agora vou tomar meu banho, porque hoje é um dia importante. Vou apresentar meu trabalho para a diretoria...

João Borges

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PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...