sexta-feira, 16 de novembro de 2018

ELA E O AMOR PRÓPRIO




Ela estava lá, a distância, e não fazia muita questão de conversar comigo. Umas poucas mensagens triviais trocadas por celular, e só. Eu até entendo o porquê. Ela preza pela liberdade e não quer dar chance, pois sabe que o coração não conseguiria reagir aos comandos do cérebro, caso esse fosse pego desprevenido. Ao mesmo tempo que se sente livre, também sente falta de uma companhia que a transborde. Aquela solidão “controlada”.

Tomada de amor próprio, decidiu aproveitar o tempo com e para ela mesma. Vai a praia, ao cinema, degusta um bom vinho sozinha, toma chopp e curte música ao vivo com as amigas. O problema era aquela batalha interna. O coração insistindo em compartilhar. Mas Ela é resistente. Firme em seu propósito.

As últimas experiências amorosas tinham sido frustrantes, para não dizer desastrosas. Isso motivou permitir-se um tempo só. Mas aquela batalha... Ela não contava com isso. Bendito coração! Depois de chorar pelas decepções que sofrera, ainda ficava insistindo nesse assunto. “Chega! Basta! Não quero mais!” O cérebro mandava seus impulsos. O coração calava. Pelo menos por enquanto. Bastava um momento de distração da massa encefálica e ele estava lá, o bendito coração mandando ver.

Para distrair o coração, mergulhou no trabalho. Para relaxar do trabalho, mergulhou em atividades físicas. De mergulho em mergulho, Ela tentava apaziguar a disputa interna de espaço entre razão e emoção.

Enquanto isso eu estava lá, observando à distância. Respeitando o espaço e a liberdade. Se estivesse perto, o respeito não mudaria, contudo resolvi deixar as coisas acontecerem naturalmente. Se fosse pra ser, seria de um jeito ou outro. Me restringi àquelas poucas mensagens por celular. No fundo, minha vontade era ter Ela perto. Dedicando parte do meu tempo a arrancar sorrisos daqueles lábios, fazendo da simplicidade minha arma para acelerar as batidas daquele coração. Quem sabe...

Um belo dia, entre as poucas mensagens trocadas, me disse que se sentia incomodada. Acho que o cérebro resolveu baixar a guarda. Em poucas palavras e muitas imagens, mostrou que a solidão estava falando mais alto. Percebi o vazio nela. Pior do que perceber o vazio em alguém, é perceber que a condição desse alguém faz enxergar o vazio em si mesmo, igualando a situação. Pior ainda, é compreender que estar perto dela nessa condição, é somar conjuntos vazios, ou seja, quem irá transbordar quem?

Nem preciso dizer que as poucas mensagens e muitas imagens me fizeram tomar uma decisão: hora de arrumar a casa. Continuo observando a distância. Um dia quem sabe...

Antes disso, Ela precisa de ajuda. Eu também.


João Borges




Um comentário:

PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...