Ela
estava lá, a distância, e não fazia muita questão de conversar comigo. Umas
poucas mensagens triviais trocadas por celular, e só. Eu até entendo o porquê.
Ela preza pela liberdade e não quer dar chance, pois sabe que o coração não conseguiria
reagir aos comandos do cérebro, caso esse fosse pego desprevenido. Ao mesmo
tempo que se sente livre, também sente falta de uma companhia que a transborde.
Aquela solidão “controlada”.
Tomada
de amor próprio, decidiu aproveitar o tempo com e para ela mesma. Vai a praia, ao
cinema, degusta um bom vinho sozinha, toma chopp e curte música ao vivo com as
amigas. O problema era aquela batalha interna. O coração insistindo em
compartilhar. Mas Ela é resistente. Firme em seu propósito.
As
últimas experiências amorosas tinham sido frustrantes, para não dizer
desastrosas. Isso motivou permitir-se um tempo só. Mas aquela batalha... Ela
não contava com isso. Bendito coração! Depois de chorar pelas decepções que
sofrera, ainda ficava insistindo nesse assunto. “Chega! Basta! Não quero mais!”
O cérebro mandava seus impulsos. O coração calava. Pelo menos por enquanto.
Bastava um momento de distração da massa encefálica e ele estava lá, o bendito
coração mandando ver.
Para
distrair o coração, mergulhou no trabalho. Para relaxar do trabalho, mergulhou
em atividades físicas. De mergulho em mergulho, Ela tentava apaziguar a disputa
interna de espaço entre razão e emoção.
Enquanto
isso eu estava lá, observando à distância. Respeitando o espaço e a liberdade.
Se estivesse perto, o respeito não mudaria, contudo resolvi deixar as coisas
acontecerem naturalmente. Se fosse pra ser, seria de um jeito ou outro. Me
restringi àquelas poucas mensagens por celular. No fundo, minha vontade era ter
Ela perto. Dedicando parte do meu tempo a arrancar sorrisos daqueles lábios,
fazendo da simplicidade minha arma para acelerar as batidas daquele coração.
Quem sabe...
Um
belo dia, entre as poucas mensagens trocadas, me disse que se sentia
incomodada. Acho que o cérebro resolveu baixar a guarda. Em poucas palavras e
muitas imagens, mostrou que a solidão estava falando mais alto. Percebi o vazio
nela. Pior do que perceber o vazio em alguém, é perceber que a condição desse
alguém faz enxergar o vazio em si mesmo, igualando a situação. Pior ainda, é compreender
que estar perto dela nessa condição, é somar conjuntos vazios, ou seja, quem
irá transbordar quem?
Nem
preciso dizer que as poucas mensagens e muitas imagens me fizeram tomar uma
decisão: hora de arrumar a casa. Continuo observando a distância. Um dia quem
sabe...
Antes
disso, Ela precisa de ajuda. Eu também.
João Borges
Sim, arrumar a casa é preciso!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, João Borges. Abçs