“Senhor! Senhooor! Isso aqui
caiu da sua cesta de compras!”, dizia uma voz feminina, levemente rouca e doce
que ouvi por trás de mim. Virei a cabeça para verificar se era comigo e dei de
cara com aquele sorriso e olhar de tirar o fôlego, enquanto Ela estendia a mão segurando
um sabonete. “Toma, isso aqui caiu da sua cesta”, insistia. Não poderia ter
sido da minha cesta, já que nem havia passado na seção de higiene pessoal, mas
resolvi não contrariar. Apanhei o sabonete da sua mão, agradeci, depositei na cesta
e segui meu caminho pelo corredor do supermercado para finalizar aquela pequena
lista de compras, que aliás, nem tinha “sabonete” escrito nela.
No caminho entre o
supermercado e meu apartamento não consegui esquecer aquele encontro
inesperado. Era uma mulher realmente muito atraente. Cabelos loiros e lisos,
olhos castanhos esverdeados, pele levemente morena. Vestia uma roupa clara, que
deixava o tom da pele ainda mais evidente num corpo lindamente esculpido.
Já em casa, guardei o que
havia comprado. Por último, no fundo da sacola do supermercado, o sabonete.
Notei que misturado aos dizeres próprios da embalagem havia um rabisco. Cheguei
o olhar mais perto para decifrar. “Me liga”, acompanhado de um número de
telefone. “Não é possível! Só pode ser brincadeira”, pensei.
Guardei o sabonete, mas com a
crueldade da dúvida tomando até a alma. Demorou uns dois dias até fazer a prova
real e ligar para saber se aquela brincadeira tinha algum fundamento.
“Alô”, respondeu aquela voz levemente
rouca e doce ao atender a chamada. “Oi”, eu disse meio desconcertado por ouvir
que não era acaso. Ela reconheceu minha voz de imediato e tratou de puxar assunto.
Confessou que estava me observando há alguns dias e que não era difícil fazer
isso, pois morava no prédio bem em frente ao meu. Me convidou para visita-la
naquela mesma semana e, se eu aceitasse, iria preparar uma surpresa. Convite
aceito, mas eu levaria o vinho.
Chegado o dia, comprei um
ramalhete de flores, separei um dos melhores vinhos da adega, me vesti e
atravessei a rua. Na portaria, o porteiro já havia sido avisado da minha
chegada e, surpreendentemente, me entregou uma chave. Havia sido instruído para
ir até o apartamento 1101 e ficasse a vontade. Pelo visto, os detalhes haviam
sido pensados minuciosamente.
Dentro do elevador, um envelope
estava preso próximo as teclas. Nele estava escrito: “para o homem que está com
a chave do 1101”. Abri o envelope e li uma carta escrita em forma de poema:
”Ela deve ser sempre
inesperada e também deve causar impacto. Faz bem em ocasião apropriada e não
deixa teu coração intacto.
Surpresa é uma forma de
alterar a vã previsibilidade das relações. Surpreender é o ato de propiciar felicidade
por meio das reações.
Surpresa também é uma cortina
que se abre para mostrar alegria, emoções que liberam adrenalina, sorrisos que despertam
simpatia.
A surpresa é uma palavra amiga
para ser dita no momento certo. É o carinho e o amor que abriga, se acaso a
desolação estiver por perto.
Todos gostam de boas
surpresas. Alguns tentam, querem até fazer. Ninguém entende tuas incertezas.
Apenas eu posso te surpreender. Seja bem vindo!”
Quando ouvi que Ela prepararia
uma surpresa, nem de longe pensava em encontrar algo assim.
Cheguei ao apartamento, abri a
porta com cuidado e me deparei com aquele ambiente muito bem preparado. A decoração
era de bom gosto. Ouvia-se uma música leve de fundo. A mesa estava posta e era
possível ouvir o som típico de água caindo de um chuveiro. A porta do banheiro
havia sido deixada aberta propositadamente. Quando Ela notou minha presença, pediu
que fosse ao seu encontro, ali mesmo. “Por favor, me passe o sabonete. Está
sobre o balcão”, disse aquela voz inconfundível. Para minha surpresa, havia um
sabonete ainda embalado, da mesma marca daquele que “eu havia deixado cair da
cesta”. Ao virar meu corpo para entregar o sabonete, não pude deixar de notar aquela
linda silhueta escondida parcialmente pela mistura de vapor e gotas de água que
se prendiam no vidro que nos separava. “Vem, entra no banho comigo”. Fiquei sem
reação. Ela abriu a porta de vidro, revelando o que as gostas de água e o vapor
insistiam esconder. Sorrindo, me pegou pela mão e me levou até onde ela estava.
Minha roupa estava sendo molhada enquanto Ela se preocupava em resolver aquele
assunto. Tirou cada peça sem tirar os olhos dos meus olhos. Palavras não cabiam
naquele instante. A descoberta recíproca era intensa, através de toques sutis intercaladas
de pegadas mais fortes. Beijos e carícias se misturavam ao vapor. Os sons dos gemidos
se confundiam com os sons da água e da música. Nossos corpos se entrelaçaram e
se completaram de tal forma que o tempo era apenas cúmplice daquela entrega. Sentíamos
a pulsação acelerada, a respiração alterada. Nossos corpos reagiam ao prazer completo.
Total. Sem pudores ou julgamentos.
Passado aquele inesperado e
prazeroso banho, recebi um roupão e um convite. “Vamos jantar? Preparei uma surpresa
pra você...”
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