sábado, 25 de agosto de 2018

AS BOAS SURPRESAS QUE A VIDA APRONTA




Aquela tarde de sábado com sol brilhando e temperatura amena brindava minha felicidade. Uma caminhada pelas ruas, ainda úmidas pela chuva leve que caira no período da manhã, me davam a oportunidade de organizar as ideias e estruturar alguns projetos que tinha em mente.

Essa prática, comum nas minhas tardes de sábado, foi interrompida pelo inusitado. Uma daquelas boas surpresas que a vida apronta.

Havia um grupo de crianças na praça, organizadas em pequenas mesas que se espalhavam na calçada central. Algumas mulheres, provavelmente suas professoras, davam algumas instruções de como as crianças deveriam se portar diante das pessoas que ali passavam. Sobre as mesas, placas com dizeres bem visíveis: ABRAÇOS GRÁTIS. QUER O MEU?

Parei meio ao longe na tentativa de observar a reação das pessoas, sem que minha reação pudesse ser notada ou testada. Minha tentativa foi em vão. Ao meu lado, puxando pela minha camisa, uma menina com sorriso leve e olhar cativante, sem pronunciar qualquer palavra ou dar alguma chance, me pegou pela mão para levar até a pequena mesa onde ela distribuía seus singelos abraços. Mudo, não pude resistir ao pedido. Antes do abraço, porém, deveria sentar em um pequeno banco, onde iríamos conversar por alguns instantes.

Para minha surpresa ela não falava, mas gesticulava. Estava tentando se comunicar comigo através de LIBRAS*. Desconcertado, por não ter ideia do que ela estava tentando dizer, fui auxiliado por uma daquelas mulheres. Fiquei atônito. O sorriso leve e olhar cativante da menina também estavam presentes naquela bela mulher. “Sou mãe dela”, me respondeu quando questionei sobre a similaridade. “Ela disse que você chamou a atenção pois parece ser um bom homem”. Com um sorriso, agradeci.

Vi aquele rostinho iluminado por luz própria sorrir e, com os braços abertos, me oferecia um abraço, o qual aceitei sem titubear.

Ah! Aquele abraço. As leis da física poderiam ser desafiadas, pois se fosse possível, tentaria parar o tempo e o espaço naquele instante. Eu, adulto, fui completamente envolvido num abraço gentil e inocente de uma criança. Aquele abraço apertado e sincero, conseguiu expulsar minhas mazelas e reclamações da vida. A generosidade daquela criança reverberava em mim através de um gesto tão simples, porém muito significativo.

Quando ela me soltou, novamente sorriu e com gestos me agradecia.

“Eu agradeço, minha criança!”, disse a ela com toda a sinceridade que brotava do peito. Ao seu lado, sua mãe era só sorrisos.

Não foi acaso nem mesmo sabia, mas tudo o que eu mais precisava naquela tarde não era organizar ideias ou estruturar projetos, mas fazer uma caminhada rumo a um forte, generoso e sincero abraço. Meu dia estava completo. Estava renovado e pronto.

A você, ABRAÇOS GRÁTIS. QUER O MEU?



(*) Linguagem Brasileira de Sinais

2 comentários:

PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...