terça-feira, 21 de agosto de 2018

A GENTE "SE ESBARRA" POR AÍ...





Era uma noite fria qualquer. Chovia pouco e a hora entrava madrugada a dentro. 
Aquela noite foi especialmente boa. Amigos reunidos, muita festa, boas risadas, bom vinho. Tudo havia sido minuciosamente planejado. Eu era um dos poucos que ainda estava sóbrio. Minha tolerância a bebidas tinha um limite muito aquém dos meus amigos e a régua havia chegado ao limite do tolerável. Junto a calçada, a fila de táxis denunciava o fim da festa aos que passavam por aquele lugar. Saí sozinho, fui até o estacionamento, entrei no meu carro e ouvi o som de uma notificação de mensagem no meu celular. Era a Jaque, a anfitriã. Pedia carona para uma amiga, que estava na festa e morava num condomínio que ficava no caminho, que eu provavelmente faria até minha casa.

Saí do carro, voltei até a entrada e lá estavam as duas à minha espera.

Engraçado, entre tantas pessoas naquele lugar, foi difícil acreditar que eu não tinha notado a presença daquela mulher tão linda. Jaque, sorridente, agradeceu pela amiga e aproveitou para me apresentar. Aquela troca de olhares me fuzilou, mas me mantive firme. Cordial, cumprimentei-a com um beijo no rosto, daqueles bem informais. Ela foi mais ousada. Também me deu um beijo no rosto, mas usou bem o limite e chegou ao canto do meu lábio. Naquele instante pude perceber, mesmo que de um jeito fugaz, o perfume, a maciez daquele lábio e a intensidade daquele momento. Jaque notou que houve algo diferente naquele instante e tratou de sair rapidamente.

Acompanhei Ela até o estacionamento, abri a porta do carro e deixei que ficasse confortável. Saímos na direção certa, porém decidimos pegar alguns atalhos. Desses que a vida apresenta e você precisa decidir se vai e arrisca ou faz o caminho convencional, mais longo e com destino certo.

No caminho, ousamos sentir a textura da pele um do outro, o aroma, o sabor. Resolvemos desvendar curvas ainda desconhecidas e acelerar para parar o tempo, num paradoxo improvável. 

Aquele trajeto, que poderia ser feito em, no máximo, 15 minutos, foi feito em não menos que 4 horas. 

Atalhos normalmente encurtam distâncias e tempos. Aquele, alongou a vida.

Ela tecia poesia em forma de movimento. O efêmero se fez eterno. Pelo menos naquele instante, não havia nada mais além de duas almas que se entregavam ao prazer da vida.

Intensidade resumiu tudo o que aconteceu no trajeto, interrompido uma única vez.

Somos instantes. E a soma deles, chamamos vida. Se a vida é breve, poderia dizer que encontrei felicidade naquele breve momento.

Ao chegar em frente a sua casa, ouvi um “amei” saindo daqueles lábios recém descobertos. 

Inebriado pelo calor do momento, ainda pude ouvir aquela voz suave me dizendo com tons de continuidade: “a gente se esbarra por aí”, enquanto sua silhueta, aos poucos, se desfazia, misturando-se a escuridão da noite.

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PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...