segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

FILHOS BUSINESS


É impressionante a vastidão que encontramos nas mais diversas redes sociais. Desde as mais simples banalidades, até as coisas mais incríveis. Sorrisos e lágrimas se misturam aos mais variados sentimentos que brotam no universo de conteúdo jogado lá todos os dias, incessantemente.

Outro dia, navegando por uma dessas redes sociais, me deparei com um post que me deixou preocupado. Não havia imagem, vídeo ou qualquer outro detalhe visual que pudesse chamar a atenção. Apenas um pequeno texto que dizia, em outras palavras, que para seu filho possa lhe enxergar como líder, você precisa trata-lo como cliente. O que chamou ainda mais a atenção, foram os inúmeros comentários como: “excelente ponto de vista”, “perfeito”, e por aí vai.

Oi? Perdi alguma coisa na educação dos meus filhos? Será que a velocidade das mudanças está tão alta que isso passou diante de mim e não percebi?

Vejamos, tenho quatro filhos. Como pai, perco as contas de quantas vezes digo sim e não a eles, todos os dias. 
Dizer não a um cliente, dependendo das circunstâncias, é quase perder negócios ou, até mesmo, o cliente.  Dizer não a um filho, dependendo das circunstâncias, é garantir que não irá perde-lo.

Aos filhos, dá-se o que é necessário e preciso, nem sempre o que ele quer.

Ao cliente, dá-se o que ele quer, mesmo que não seja preciso e tão necessário naquele momento.

Exercer liderança nas corporações requer ser participativo com a equipe, proporcionar e participar de workshops, treinamentos buscando alto rendimento, reciclagem e estudos constantes entre tantos outros requisitos.

Exercer liderança com filhos requer presença, brincadeiras, rir junto e chorar abraçado; dar um passe para que o filho ou a filha faça o gol num parque, e sair comemorando como se fosse final de campeonato; ler histórias para que eles possam dormir, viajar com eles nas mais inebriantes fantasias; crescer com eles, enquanto você envelhece; saber dizer não, mesmo que isso cause alguma dor. E garanto, fazer isso, as vezes, dói mais em nós.

É. Não perdi nada na educação dos meus filhos, nem a velocidade das transformações contemporâneas atropelaram minhas convicções. Ainda consigo fazer distinções, diante de uma realidade tão plural.


Não sou um pai perfeito, mas uma coisa tenho certeza: não abençoo, dou beijo de boa noite e vejo clientes dormindo nos quartos da minha casa. Vejo futuro. Vejo meus filhos.


João Borges
Escritor - Joinville/SC

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  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...