“Feliz
aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” – Cora Coralina
Lembro muito bem, quando era
mais jovem, de um autoquestionamento que fazia. E quando eu for pai?
Sabe aqueles planejamentos que
fazemos – alguns deles muito loucos – quando visualizamos um futuro incerto, e nos
enchemos de esperança para que tudo aquilo que traçamos se realize? Pois é, um
dos planos que fazia na minha juventude, acreditem, era ser pai. Mas não
poderia ser qualquer pai. Teria que ser o pai mais legal do universo. Aquele que
seria visto desde super-herói até uma enciclopédia ambulante, de tantas
respostas que precisaria ter para todos os tipos de perguntas.
A ideia era ser um pai que
passasse bons exemplos através de grandes atitudes. Pensava alto, grande,
precisaria gerar tal impacto que ficasse bem gravado e, dessa forma, o exemplo
se perpetuasse na vida do meu filho ou filha.
O tempo passou e os filhos
vieram. Não um, mas quatro. Talvez você esteja pensando: “Meu Deus!”, “Que
coragem!”, “Quatro?”, ou ainda, todas essas expressões juntas. Eu sei, fique
tranquilo. Já ouvi isso muitas vezes e até me acostumei.
Era a hora de pensar nas
grandes atitudes, nos grandes exemplos. Ser aquele “melhor pai da galáxia”. Precisava
estudar o melhor momento para que esses grandes exemplos fossem passados. Não
poderia ser quando fossem bebês, pois não entenderiam. Também não poderia ser
enquanto crianças pequenas. Talvez quando fossem jovens. Será? Qual o melhor
momento? Novos questionamentos aparecem, quando você toma para si a responsabilidade
de ser um grande pai.
Tive a alegria e o prazer de
acompanhar o pré-natal e o parto de todos os meus filhos. Fiz fotos, respirei
fundo e, por mais que duvidem, não desmaiei. No último parto, o médico de tão
acostumado, dizia brincando: “mas por que me chamar? Esse pai já é experiente,
já pode até fazer o parto”. Na hora da alegria da chegada do bebê, era fácil
brincar assim. Eu, também brincando, respondi: “Nem precisa. Esse já deve
nascer e sair andando sozinho”. Era a descontração necessária para um momento
delicado e feliz.
Também tive a felicidade de
levar meu filho mais velho para o seu primeiro dia de escola. Aquele em que a
criança fica no colo da professora, aos berros e chorando, chamando pelo pai, enquanto,
de coração partido, você vira as costas e vai embora. Depois do terceiro dia
repetindo o mesmo enredo, a criança já nem chama, mas ao contrário, se despede com
um sorriso, deixando você com aquela cara de tonto e um misto de espanto e
alegria.
No decorrer do tempo, vi meus
filhos chegarem em casa sujos, felizes, arranhados, tristes, suados, sorridentes,
sérios e tantas outras expressões faciais e corporais. O tempo passa mais
rápido do que eu poderia imaginar. Foram vitórias das boas notas nas provas,
derrotas quando o resultado não era tão bom assim. Sujos e suados por
aproveitarem ao máximo o tempo que lhes era propício.
Hoje meu filho mais velho tem
16 anos. Outro dia, estávamos tomando café da manhã juntos, quando ele fez um
comentário que foi a inspiração para esse texto.
- Pai, quando eu era criança,
o que eu mais admirava – e queria fazer igual quando eu crescesse – era a forma
como você adoçava o café. Você girava o café tão rápido que ficava aquele
buraquinho no café, bem no centro da xícara.
Meio atônito, olhei para o meu
filho. Todo aquele filme do planejamento inicial, passou na minha cabeça numa
fração de segundos.
E os grandes exemplos, aquele
impacto, o momento certo de quando passar, onde foi parar tudo isso? O tempo
havia passado e a vida me ensinou que são nos pequenos exemplos diários que se
constrói um grande impacto. O ato de acompanhar o nascimento, trocar fraldas,
dar banhos, incentivar a amamentação, fazer caretas, fazer dormir – e dormir
junto, fazer massagem na barriguinha quando tiver cólicas, levar a escola,
preparar e adoçar o café.
Tantos pequenos exemplos.
Tantas pequenas atitudes que fazem a grande diferença. Todos esses pequenos
gestos que, numa fração de segundos, me tornaram no super-herói que sempre quis
ser.
Minha gratidão, filhos! Cora
Coralina tinha razão.
João Borges
Escritor – Joinville/SC
Sensacional, João. Texto que me emocionou e com certeza vai inspirar ainda mais minhas atitudes daqui pra frente. Obrigado por compartilhar comigo. Abraços!
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