quarta-feira, 15 de novembro de 2017

SIM, NÓS TEMOS ESCOLHA.


Tenho acompanhado uma discussão nas redes sociais no que se refere ao aborto.

Será que minha visão das coisas anda tão deturpada assim? Ou será que as pessoas, no calor do debate, acabam se perdendo nos trilhos do assunto e acabam descarrilando os mais diversos vagões carregados com os mais variados tipos de ideias? – algumas delas sem o menor sentido.

Precisamos parar e analisar alguns pontos. Percebo que nessa discussão - e em outras pode se aplicar o mesmo - estamos errando em dois pontos fundamentais

O primeiro é nossa postura diante do contraditório. Virou moda destilar veneno, armar-se de ódio, unhas, dentes, punhal, revólver e algumas outras armas, para entrar num debate. 

No nosso processo evolutivo, retrocedemos e resolvemos à moda antiga, dando ares de inspiração nos filmes de “velho oeste”.

Um segundo ponto, não menos importante, é a mistura que está sendo feita diante de um assunto tão complexo, neste caso, o aborto.

Tudo começa com um PEC (Projeto de Emenda à Constituição), que criminaliza o aborto, incluindo os casos atualmente permitidos.

Sinceramente, a discussão começa muito antes de qualquer lei instituída. Pela escolha, ou não, a pena já é dada pela própria vida.

Uma das coisas que aprendi com meus pais é: “não faça com os outros, aquilo que não quer que faça com você”. Parece clichê, não é mesmo? Sim, e muito. Entretanto, se ampliarmos o contexto ao que essa frase clichê pode ser aplicada, podemos nos surpreender.

Vamos inverter a receita dos meus pais? Que tal fazermos para os outros o mesmo que queiramos que seja feito a nós?

Considerando os debates sobre aborto em caso de estupro, tônica da atual discussão, pergunto: a quem queremos punir? Estaremos resolvendo o problema com a execução de um aborto? Você, que defende o “direito” ao aborto, pode até argumentar sobre o direito da mulher em relação ao seu corpo, sobre os traumas decorrentes disso, enfim. Posso dizer que em nenhum de seus argumentos, o bebê terá culpa. E mesmo assim, está sendo sentenciado a morte por algo que ele não cometeu. Ao culpado pelo crime de estupro, que seja aplicada a pena. Esse sim deve pagar (e muito) pelo que fez. Ao bebê, infeliz inocente, deve ser dada a pena capital por estar no lugar errado e na hora errada? Mais um número nessa guerra informal.

Outra coisa que você, defensor(a) do “direito” ao aborto, pode dizer é: “é fácil falar tudo isso sendo homem, quando você passa por nada disso”. Confesso que ouvir ou ler isso me fere profundamente. Fere na dignidade de pessoa, de pai, de ser humano. De fato, não posso engravidar, sentir o movimento de um ser dentro de mim, amamentar ou viver qualquer momento próprio da mulher. Mas posso defende-lo. E vou. Dentro do corpo de uma mulher grávida, pode ter outra mulher que terá seus direitos defendidos. Poderá ter o corpo de um homem, que poderá ser educado para ajudar a defender esses mesmos direitos.

Não quero discutir ou tirar direito algum sobre o corpo da mulher. Não tenho esse direito. Ninguém tem. Porém, estamos discutindo os direitos que devem ser mantidos sobre outro corpo que se desenvolve dentro da mulher. Também não devem ser tirados. Não temos esse direito. Ninguém tem.

Num estupro, a mulher fica dilacerada em sua dignidade física e psicológica. Num aborto, também. Alguns motivos que podem fazer do aborto uma escolha podem ser: olhar a criança e lembrar da ferida, ter um filho não planejado – ainda mais, decorrente de uma violência, enfim. Pois bem, optando pelo aborto, a mulher terá duas feridas para tratar: o estupro e o aborto. Será que abortar é a saída menos traumática, já que traumas existirão de uma forma ou outra?

Efeitos psicológicos (e por vezes, físicos) precisarão de atenção especial, independente da escolha. Não há como fugir disso.


Sigo em frente, defendendo o direito a dignidade e a vida com a receita simples dos meus pais. Não quero para outros, o que não quero que façam para mim.


João Borges
Escritor - Joinville/SC

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