Recentemente participei de uma
Bienal do Livro em Pernambuco. Uma experiência maravilhosa, em muitos sentidos.
Sem patrocínios ou dinheiro
para participar do evento, organizei uma campanha para vender meu livro,
publicado em março deste ano (2017), sendo que a renda gerada serviria para
arcar com os custos de tudo: passagem, hospedagem, estande, deslocamentos,
envio de material para o evento e alimentação. Era um projeto ousado. Seria
necessária a venda de, pelo menos, cem exemplares do livro para que o projeto
fosse viável. Minha preocupação era estritamente financeira, já que a motivação
para viver o clima da Bienal era muito elevada.
No âmbito pessoal, vivo um
caos. Desempregado, tenho nas vendas eventuais do mesmo livro a única fonte de renda
para me manter. Quem é autor independente sabe bem do que estou falando. Para
quem não é autor independente, tente imaginar a certeza de suas contas
vencendo, sem a certeza de que terá os recursos suficientes para paga-los.
Campanha montada, era hora de
começar a fazer contatos, divulgar e espalhar a notícia. Tinha pouco mais de um
mês para levantar recursos suficientes. Passei muitas horas nessa empreitada.
Sacrifiquei um bom tempo para estar com meus filhos, acompanhar atividades
deles, escrever o novo livro, enfim. Todo o esforço era necessário e
concentrado para que o sonho de participar da Bienal de Pernambuco fosse
realizado. Ainda, o dinheiro era a maior preocupação.
Os dias foram passando, os
exemplares eram vendidos e os recursos iam sendo arrecadados. Infelizmente, ao
final da campanha, não consegui chegar na meta. Na verdade, fiquei bem longe de
atingir o objetivo, porém não me dei por vencido. Refiz os cálculos, retirei
bagagem, fiz opções ainda mais baratas das que já tinha feito anteriormente.
Ainda assim o arrecadado não era suficiente. Uma decisão era necessária:
desistir era uma; seguir viagem, apresentar o trabalho e com o resultado das
vendas na Bienal cobrir o que ainda faltava, era a outra.
Mais uma vez, ousadia. Decidi
seguir viagem, porém a preocupação financeira ainda insistia em martelar a
cabeça. Deixei para trás os abraços, beijos e sorrisos carinhosos dos filhos
para partir rumo ao sonho.
Viagem realizada, troca de experiência
com leitores e outros escritores, alguns livros vendidos e a certeza de que tudo
o que havia feito anteriormente, não tinha sido em vão.
Resultado financeiro? Não
obtive. Os livros vendidos antes e durante a Bienal não foram suficientes para
que os custos fossem cobertos. O financeiro ainda está martelando a cabeça. Se
antes estava difícil, agora está mais.
Ainda assim existem as
compensações. Ao retornar da viagem, recebo os melhores presentes do mundo. Cheguei
em casa e meus filhos ainda não tinham vindo da escola. Fiquei esperando dentro
do carro. Quando ao longe me avistaram, saíram correndo e me deram os abraços, beijos
e sorrisos mais sinceros que poderiam existir. Ah, aquele carinho todo. É capaz de afogar todas as preocupações numa fração de segundo. Não que esteja sendo relapso com as obrigações que ainda restam. Longe disso. Mas aquele momento não poderia - nem deveria - ser dispensado. É único, verdadeiro, arrebatador. Daqueles que te arrastam de uma tormenta e carregam a um lugar seguro.
É o tipo de gesto que não tem preço, é gratuito, mas tem um valor imensurável.
É o tipo de gesto que não tem preço, é gratuito, mas tem um valor imensurável.
De tudo o que o dinheiro pôde pagar,
das experiências vividas, e daquilo que ainda precisa ser pago, o melhor ainda
é gratuito.
João Borges, escritor.
Joinville/SC
Nenhum comentário:
Postar um comentário