Se na medicina fosse possível
fazer o diagnóstico do amor, seria necessário um bom exame de imagem para saber
se lá dentro existe a amizade. Sim, ela mesma. A amizade. E a correlação entre
os dois deveria ser quanto maior, melhor.
Na juventude, somos capazes de
compartilhar nossos sonhos, defeitos, alegrias, imperfeições, vitórias e até os
mais íntimos segredos com grandes amigos ou amigas, mas incapazes de fazer o
mesmo com nossos pais. E se perguntados sobre o porquê disso, talvez tenhamos
certa dificuldade em responder.
Na vida adulta, é possível que
o mesmo venha a acontecer com aquela pessoa que você resolveu se relacionar.
Por quê? Porque não aprendemos o suficiente sobre o MEU AMOR. Aquele que depositamos
sobre nós mesmos. Fazer valer a letra da música que diz: “Meu melhor amigo é o
MEU amor”. Esse mesmo. O meu. Aquele que dou a mim mesmo. O tão dito amor
próprio. O mesmo que diz o quanto sou amigo de mim. Sem ele não há um “nós”. Quando
aprendemos sobre isso, a vida acontece.
Se fosse dar um conselho,
diria: tenha uma amizade sólida com aqueles que você insiste dizer que ama. Se
tudo der errado no relacionamento, pelo menos haverá uma boa amizade a ser
preservada.
Seja capaz de compartilhar
tudo de você com aquela pessoa que você resolveu multiplicar sonhos e
potencializar realizações. Se não for possível, meu amigo, algo deu errado e
será necessário rever suas escolhas.
Amor não é degrau mais alto da
amizade. É complemento dela. Bonito encontrar casais que são grandes amigos. Ao
perguntar se são namorados, serão capazes de responder: também somos.
Amizade é valorizar cada
instante. Aquele beijo roubado, aquela flor solitária numa despretensiosa
quinta de manhã, aquele inesperado café na cama ou aquele carinho nos cabelos
feitos durante uma troca de olhares.
Não há carro do ano, uma gorda
conta bancária, cobertura de frente para o mar ou aquele iate ancorado que dirá
o tamanho da amizade. Talvez até ajude, mas a ausência disso tudo – e mais um
pouco – talvez diga muito mais.
E se no relatório do tal exame
de imagem viesse a conclusão: amizade imperceptível, poderia diagnosticar: chame
do que quiser, menos de amor.
João Borges
Escritor –
Joinville/SC
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