sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PERDI A CONTA

 



Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever.

Faltou vocabulário.

Faltaram adjetivos.

Sobraram qualidades em meio aos defeitos.

Já te coloquei em versos.

Te escondi em metáforas.

Te amei nos meus sonhos.

Te desenhei em rascunhos.

Fostes meu primeiro pensamento do dia e minha última oração da noite.

As vezes, minha dose diária da doce loucura.

Virastes personagem de uma história só nossa e protagonista do ritmo descompassado desse músculo que insiste bater dentro do meu peito.

Fomos leves, livres e loucos.

Reza a lenda que, o que é seu, cedo ou tarde vai te encontrar.

Assim espero, porque me permito te achar cada vez que tento te descrever. Como agora…



JOTA B

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

FREQUÊNCIA

 


Eu tinha acabado de sair de uma reunião quando o celular vibrou no meu bolso. Era uma notificação de mensagem. Enquanto alcançava o celular, minha mente pedia que fosse alguma coisa dela. No lábio, meu sorriso discreto denunciava o quão satisfeito eu ficava toda vez que ela fazia qualquer tipo de contato. Não deu outra. “Antes de vir pra casa passei na Adega e comprei um vinho. Acho que você vai gostar”. Não era aniversário ou qualquer outra data comemorativa. Tínhamos o hábito de celebrar qualquer coisa, por mais simples que fosse. E nem sempre precisava de uma bebida especial. Bastava que estivéssemos juntos.

Lembro de uma vez em que eu quebrei o braço. Era uma noite chuvosa e estávamos voltando do hospital. No caminho, o pneu do carro furou e não havia ninguém na rua que pudesse nos ajudar. Ela, em toda sua vida, nunca havia trocado um pneu furado e aconteceu naquele momento, o mais inapropriado possível. Fomos à luta. Com um braço engessado e ainda sentindo um pouco de dor, virei ajudante. Não conseguiria fazer muito. Com esforço e alguma orientação, ela conseguiu fazer a troca. O resultado foi dois corpos completamente molhados e sujos, um gesso estragado e um pneu trocado. Sucesso total! Não havia vinho, mas havia uma garrafinha de água mineral, ainda na sacola de supermercado, no banco de trás do carro. Com a satisfação do dever cumprido, brindamos com meio litro de água,  antes, claro, de voltar ao hospital para trocar o gesso. Isso ilustra como qualquer coisa era motivo pra comemorar. O motivo era estarmos juntos em tudo.

Tão bom quando encontramos a pessoa em que “o santo bate”. Sentimos a mesma frequência desde o primeiro dia. Nos encontramos num momento da vida em que ambos tinham passado por um reencontro em si mesmos. Antes disso, cada qual viveu seus perrengues pessoais. Sofreram por quem não merecia tanto. Derramaram lágrimas e depois se arrependeram. Enfim, aqueles momentos que fazemos o possível para tirar da memória, mas que foram importantes para chegar ao que somos. Depois dos tropeços, enxergaram que quem merecia atenção e carinho eram eles mesmos, cada um em si. E quando encontramos esse ponto de equilíbrio fundamental, aprendemos que outra pessoa na mesma vibe virá naturalmente.

O sorriso no canto da minha boca ainda estava lá. Não via a hora de chegar em casa. Restava saber qual o motivo da nossa comemoração, além de estar novamente juntos.

 

JOTA B


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

POR TRÁS DO ESPELHO

 


Quando eu a conheci, ela tinha saído de um relacionamento de vários anos. Carregava marcas evidentes de uma relação não saudável. Não era difícil notar que ela estranhava a atenção que eu dava. Gestos de carinho eram confundidos com “golpe”. Apesar da nitidez do envolvimento, a sensação de medo a rondava e, de certa forma, causava aquela confusão de não saber como pensar ou agir. A consequência era algum distanciamento. Pessoas assim ficam tão “cascudas”, que resistem em receber gestos genuínos de carinho. Infelizmente ela não havia sido acostumada com a generosidade.

Apesar disso, havia sorriso nela. Os lábios expressavam fagulhas momentâneas de uma sede imensa de felicidade. As vezes algumas frases soltas do tipo “você me faz bem” mostravam que ela estava dedicada a tentar mudar uma história de algumas escolhas infelizes. Como era bom ouvir ela dizer “Eu estava aqui pensando...”. Era a certeza de que ela queria minha companhia. E era muito bom quando isso era possível. Qualquer programa, por mais simples que fosse, me fazia sentir realizado. No fundo... bem no fundo, talvez o meu jeito de ser tenha se aproximado de um ideal que ela esperava em alguém. Não que eu fosse o cara perfeito, mas somando minhas imperfeições e colocando-as na balança, minhas qualidades poderiam ter um peso maior e que chamaram a atenção, de alguma forma.

Tudo isso me faz pensar a respeito das intenções dentro de um relacionamento. Como alguém ainda é capaz se supor uma relação baseada na dependência, seja ela qual tipo for? Como ainda existem pessoas que entendem a submissão, as vezes análoga a uma hierarquização quase militar, como uma forma de construir um “casamento”?

Relação boa é troca saudável. Respeito é indispensável e não se negocia. Reciprocidade não é toma lá, dá cá, mas uma gratuidade natural dada sem muito esforço. Leveza é uma busca que não pode ser deixada de lado. Carinho é um presente que precisa ser genuíno, verdadeiro. Enquanto existirem pessoas que não acreditam nessa pequena via e que preferem o caminho dos abusos velados, teremos filas nas portas dos consultórios de psicologia e infelizmente não será por terapia preventiva.

Ame e respeite a pessoa que está ao seu lado. Ali tem uma história de vida que ainda acredita. Não seja a pessoa que vai ajudar na construção de uma sociedade de pessoas transtornadas com relacionamentos de mentira ou que sobrevive apenas de aparências.

 

JOTA B


segunda-feira, 5 de julho de 2021

TE QUERO

 


Te quero.

Te quero e muito.

Te quero inteira.

Não quero metade, nem talvez ou quem sabe.

Quero certeza, e também de verdade.

Te quero com tempo, com demora ou mesmo sem tempo.

Te quis ontem, te quero hoje e quero depois.

Na linha da vida, te querer vai longe. Vai além. Vai até...

Certezas da vida, não tenho muitas.  

Um coração pulsando,

Ar nos pulmões,

Sangue nas veias,

E um intenso te querer.  

 

JOTA B


domingo, 27 de junho de 2021

UM DIA

 


Um dia acordaremos, olharemos para os lados e seremos apenas nós.

Nossos filhos estarão vivendo cada qual sua vida e tudo o que restará será nós e o nosso jeito de viver.

Aquelas preocupações típicas do cotidiano serão outras. Poderemos dormir até mais tarde e até fazer barulho porque não haverá alguém que esteja no quarto ao lado.

Um dia chegaremos em casa e ouviremos apenas as nossas vozes. E isso não será triste, pelo contrário, carregará a satisfação de uma vida bem vivida e que agora desfruta de maior tranquilidade.

Um dia entenderemos nossos silêncios, sem que ouvir música alta ou cantar desafinadamente no chuveiro seja algum tipo de incômodo.

Um dia seremos nós e poderemos dizer que os problemas serão só nossos, porque se a insônia chegar, encontraremos um ao outro para encostar a cabeça com a sensação de estar sendo cuidado.

Um dia estaremos juntos, porque escolhemos estar juntos. E será lindo.

Teremos vantagens que em outras épocas não teríamos, porque cada um carregará em si a força que a vida se encarregou de ensinar e poderemos compartilhar isso. Viveremos o amor de forma livre, madura e respeitando a própria história.

Um dia seremos nós resmungando pelos cantos da casa e rindo de nós mesmos, porque será divertido crescer até o último suspiro. Será como encontrar almas jovens e corpos velhos.

Um dia poderemos sentir saudades trazendo boas lembranças, mas saberemos que a saudade não causará dor, porque saberemos criar novas boas lembranças.

É... um dia seremos nós.

 

JOTA B


segunda-feira, 21 de junho de 2021

INVERSO

 


Invertido. Ao avesso. Pelo contrário.

Te provoco. Vá além do convencional.

Olhe como o verso que vem de dentro.

A palavra gestada, mas ainda não nascida.

O poema pronto, mas bem guardado.

O sentimento puro, mas retraído.

A verdade que ainda não veio à luz.

O brilho que ainda não venceu o breu.

A atitude que ainda teme.

O grito que deseja romper silêncios.

Inverso ao que imaginas. Pelo contrário daquilo que pensas. Ao avesso da superfície da sanidade.

Aceite meu convite. Inverte paixão desse universo chamado você.

Deixa escorrer livre aquilo que te é melhor.

Não reduza versos soltos.

Apenas deixa ser... inverso.

 

JOTA B


domingo, 20 de junho de 2021

TENSÃO

 


O pescoço doía muito. Aí eu parei de usar roupas apertadas, troquei de cadeira, comprei cintas ortopédicas, fiz yoga, pilates, fui a quiropraxistas e médicos de todos os tipos, mas a dor continuava. Peso, carga, incômodo que não me deixavam dormir e as vezes até me custava a respiração.

E então? O que você fez?

Uma sábia mulher me disse que era porque carregava demais, há muito tempo.

Como é que ela sabia disso?

Só de olhar para a minha coluna tensa e comprimida, sentir com o toque daquelas mãos que carregavam as marcas da idade, na minha pele nua, ela soube.

E então? O que ela te disse?

Disse... Tantas pressões que carregou com o passar dos anos. Tanta dor e ressentimento que perdeu a conta. Carrega o próprio peso do mundo e o peso do mundo alheio.

E aí eu expirei todo o fôlego que estava trancado há mais de duas décadas.

Ela disse como te curar?

Ela segurou as minhas mãos e fez baixá-las. Pediu para soltar os ombros, levantou meu queixo e se encostou atrás de mim. Próximo ao meu ouvido sussurrou suavemente:

“Nem tudo é culpa sua. Nem tudo é sua responsabilidade. Você não pode fazer tudo. Você não pode resolver tudo. Você não precisa aceitar tudo.”

E então meus olhos começaram a soltar lágrimas grossas como cristais quebrados. Houve um momento em que pensei que choraria sangue, de tanta dor que estava sentindo.

Pouco a pouco meus ombros voltaram ao lugar. Meu pescoço ficou macio e se levantou novamente. Minhas costas se ergueram como há anos não acontecia e ouvi meus ossos emitirem um som crocante e assustador.

O peso do mundo tinha descido dos meus ombros. O peso das dores do passado tinha finalmente descido ao piso e a partir de então seria usado com degrau.

Ela te disse mais alguma coisa?

Há dores que carregamos no coração e essas não há como tirá-las facilmente. Aprenda a soltar o passado ou acabará afogando o seu futuro. Também compreenda que a falta de perdão machuca mais aquele que ressente.

 

Texto adaptado. Autoria desconhecida.

 

sábado, 19 de junho de 2021

EM CADA FRASE

 


Tenho jeito próprio de me expressar. Espero que me entendas.

Se não entender, me fale sem medo. Sou bom ouvinte.

As vezes as palavras me faltam na boca e sobram pela mente.

Tento ensaiar o que vou dizer. Faço roteiro. Discurso completo.

O que digo foge ao ensaio. Sai do roteiro. Faço algumas voltas e destruo qualquer discurso. Nem pareço a mesma pessoa que organizou uma ideia.

Esse sou eu. Das cinzas das próprias imperfeições, procuro ser melhor.

Do meu pecado, procuro remissão. Das minhas lágrimas vertem as impurezas, mas é na essência que se encontram as minhas verdades.

Me chamam de vaidoso.

Se escrever para aliviar o coração é vaidade, então assumo a condição. Prefiro dizer que compartilho um pouco de mim em cada frase.

De mim terás o desejo infinito de felicidade. Um coração acessível e que se entrega sem reservas. Se quiser entrar, tenha cuidado. Deu bastante trabalho restaurar as frestas causadas por histórias frustradas.

A porta está destrancada e o café está pronto. Nas próximas vindas não seja apenas visita. Seja moradora.

 

JOTA B 


sexta-feira, 11 de junho de 2021

VONTADES E DESEJOS

 


Tenho em mim muitas vontades guardadas. Outras, desejos.

Vontade da praia. Desejo do sol. Vontade do campo. Desejo do céu.

Das vontades e desejos mais simples, me resolvo.

Agora...

Algumas vontades me são especialmente caras.

Essas, vontade e desejo se encontram. Namoram livres. Se despem de medos. Se beijam e fazem amor.

Nessas, vontade e desejo se encaram, se encontram e se encantam.

Tiram de si o melhor. Não escondem o pior. Se mostram e se entregam inteiros.

Sentem o arrepio viajar a pele. Tocam e instigam os sentidos. Sentem aroma e sabor do estar.

Das vontades e desejos mais profundos, sou texto inacabado na busca do seu final feliz. Anjo de uma asa só. Incompleto. Imperfeito.

Nas minhas vontades mais profundas, você. Nos meus desejos, também.

 

JOTA B



WILLS AND DESIRES


I have in me many kept wills. Others, desires.

Will of the beach. Desire of the sun. Will of the field. Desire of the sky.

I resolve myself in the simplest wills and desires.

But...

Some wills are dear for me in a special way.

In these, will and desire meet each other. They get along freely, get rid of fears, kiss and make love.

In these, will and desire stare at each other, meet and are enchanted.

They get the best out of themselves. Don't hide the worst. They show themselves and surrender entirely.

They feel the shiver travel through the skin. They touch and instigate the senses. They feel the smell and taste of the stay.

Of the deepest wills and desires, I'm an unfinished text in search of its happy end. Only-one-winged angel. Incomplete. Imperfect.

In my deepest wills, you. In my desires, too.


JOTA B



sexta-feira, 4 de junho de 2021

UM POUCO DE MIM

 


Sou de verdade. Tenho aprendido a lidar com sentimentos. A vida cobra um preço alto quando essa habilidade me falta.

Escrevo metáforas. Muitas delas, incompreendidas.

Na minha história, abro uma nova página. Te ofereço para que escrevas comigo.

Linhas cruas que se oferecem livres e nuas. Tanto a contar. Tanta vida a compartilhar.

Construções que se ocultam a espera de um tempo.

Tempo dado em presente, que foi passado adiante e ainda não conhece o seu futuro.

Efêmero quando se quer perpétuo. Duradouro quando se quer efêmero.

Leia-me nas entrelinhas e encontrarás os meus segredos.

Decifra minhas metáforas e verás as minhas verdades.

Quanto mais te quero, menos te tenho. Dor que se alonga pelo caminhar lento dos ponteiros.

Da página aberta, somente há espera do teu lápis, pronto para tecer novas grafias.

Quando, enfim, contaremos nossas histórias?

 

JOTA B



A LITTLE ABOUT ME


I truly am. I have been learning how to deal with feelings. Life charges a lot when there is a lack of that skill.

I write metaphors. Many of them are not understood.

In my life, I open a new page. I offer it to you to write with me.

Raw lines that offer themselves freely and nakedly. So much to tell. So much life to share.

Hiding constructions just waiting for a time.

Time given as present, which has passed on and which doesn't know its future.

Transitory when it's wanted to be eternal. Lasting when it's wanted to be transitory.

Read me between the lines and you'll find my secrets.

Decipher my metaphors and you'll see my truths.

The more I want you, the less I have you. Pain that lasts through the pass of the pointers.

With the open page, there is only the waiting for your pencil, ready to a new handwriting.

When are we, finally, telling our stories?


JOTA B



quinta-feira, 3 de junho de 2021

NÃO É SOBRE...

 


E se o dia tivesse mais que as vinte e quatro horas que temos? Você seria diferente?

E se o caminho até a praia fosse mais curto, você estaria lá ou estaria lamentando porque o caminho até algum outro lugar é longo?

E se a distância entre você e a pessoa amada não mais existisse? Você se esforçaria em conquistar essa pessoa todos os dias?

E se num passe de mágica, a dor pudesse ser curada? Você machucaria novamente?

Não é sobre ter mais tempo, mas ter prioridade.

Não é sobre querer estar, mas simplesmente estar.

Não é sobre falar. É sobre atitude.

Não é sobre brincar com sentimentos, mas ser de verdade.

A certeza cresce lenta, quando plantada num coração onde mora a dúvida.

 

JOTA B

 


IT ISN'T ABOUT...


What if the day was longer than these twenty four hours long it is?

What if the path to the beach was shorter, would you be there or would you be complaining because the path to somewhere else is long?

What if the distance between you and the loved person was null? Would you struggle to win them every day?

What if the pain could be healed as if by magic? Would you hurt oneself again?

It isn't about having more time, but giving priority.

It isn't about desiring to be, but simply being.

It isn't about speaking, but having attitude.

It isn't about feeling superficially, but being real.

Certainty grows slowly, when it's planted in a heart where lives the doubt.


JOTA B



PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...