Quando eu a conheci, ela tinha
saído de um relacionamento de vários anos. Carregava marcas evidentes de uma
relação não saudável. Não era difícil notar que ela estranhava a atenção que eu
dava. Gestos de carinho eram confundidos com “golpe”. Apesar da nitidez do
envolvimento, a sensação de medo a rondava e, de certa forma, causava aquela
confusão de não saber como pensar ou agir. A consequência era algum distanciamento.
Pessoas assim ficam tão “cascudas”, que resistem em receber gestos genuínos de
carinho. Infelizmente ela não havia sido acostumada com a generosidade.
Apesar disso, havia sorriso
nela. Os lábios expressavam fagulhas momentâneas de uma sede imensa de felicidade.
As vezes algumas frases soltas do tipo “você me faz bem” mostravam que ela
estava dedicada a tentar mudar uma história de algumas escolhas infelizes. Como
era bom ouvir ela dizer “Eu estava aqui pensando...”. Era a certeza de que ela queria
minha companhia. E era muito bom quando isso era possível. Qualquer programa,
por mais simples que fosse, me fazia sentir realizado. No fundo... bem no fundo,
talvez o meu jeito de ser tenha se aproximado de um ideal que ela esperava em alguém.
Não que eu fosse o cara perfeito, mas somando minhas imperfeições e colocando-as
na balança, minhas qualidades poderiam ter um peso maior e que chamaram a
atenção, de alguma forma.
Tudo isso me faz pensar a
respeito das intenções dentro de um relacionamento. Como alguém ainda é capaz
se supor uma relação baseada na dependência, seja ela qual tipo for? Como ainda
existem pessoas que entendem a submissão, as vezes análoga a uma hierarquização
quase militar, como uma forma de construir um “casamento”?
Relação boa é troca saudável.
Respeito é indispensável e não se negocia. Reciprocidade não é toma lá, dá cá,
mas uma gratuidade natural dada sem muito esforço. Leveza é uma busca que não
pode ser deixada de lado. Carinho é um presente que precisa ser genuíno,
verdadeiro. Enquanto existirem pessoas que não acreditam nessa pequena via e que
preferem o caminho dos abusos velados, teremos filas nas portas dos consultórios
de psicologia e infelizmente não será por terapia preventiva.
Ame e respeite a pessoa que
está ao seu lado. Ali tem uma história de vida que ainda acredita. Não seja a
pessoa que vai ajudar na construção de uma sociedade de pessoas transtornadas
com relacionamentos de mentira ou que sobrevive apenas de aparências.
JOTA B

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