Caminhando pela calçada, numa
tarde quente de verão, ouvi um sussurro. Era a doce voz do vento anunciando que
não demoraria para a chuva chegar. O esgotamento do dia fez eu me permitir ao
luxo da espera.
Sentei-me num banco de praça qualquer. Meu
corpo suado era a própria tradução do castigo que a temperatura trouxe naquele
dia. No céu, as nuvens negras e carregadas das mais puras e pesadas lágrimas, se
reuniam. Pessoas iam e vinham freneticamente. A luta contra o tempo era
latente. Alguns fugiam da possibilidade de se molhar com a chuva que, aos
poucos, chegava. Outros fugiam de si mesmos, das frustrações e dos próprios pesadelos.
Outros ainda, buscavam respostas onde as perguntas não existiam. Enfim, cada pessoa
exibia, quase velada, sua correria.
Eu ali, naquele banco de praça
apenas me permiti esperar. Em mim havia uma lacuna. Será que a chuva poderia ajudar
a transbordar aquele espaço vazio?
Meus pensamentos viajavam
pelos arredores, mas meu corpo era estático. Eu apenas me permiti esperar.
Aquele sussurro inicial foi
ficando mais forte. Já não era um sussurro, mas uma voz que gritava baixo comparado
ao som melancólico da cidade que fugia. Eu ali, apenas me permiti esperar.
De repente, vi uma lágrima
caída no chão aquecido pelo sol. Sem demora, outra lágrima. E outra, e outra...
Em segundos o chão foi ficando coberto delas. Também caiam sobre mim. Deixei
que elas se misturassem livremente ao meu suor.
Ao redor as pessoas corriam
ainda mais. Eu ali, apenas me permiti envolver.
Deixei que cada gota
escorresse pelo corpo. Precisava que as lágrimas do céu ajudassem a lavar a alma.
Precisava que se juntassem às lágrimas dos meus olhos. Elas tinham algo a
conversar. Eu ali, parado, apenas me permiti sentir.
Senti que minha lacuna ainda
estava ali, intocada. Foi quando percebi que meus versos escondidos que fiz
enquanto aguardava, me envolvia e sentia não poderiam ser preenchidos por
lágrimas.
O tempo passava. A chuva não.
Era insistentemente deliciosa. Trovões faziam o barulho da cidade sucumbir ao
silêncio. O sussurro inicial, que se transformara em grito baixo, agora era um brado
inaudível aos que não prestavam atenção. Era o som da saudade. Aquela saudade que
aperta o peito e grita na quietude. Seu som não vai aos ouvidos, mas chega
fácil ao coração. Minha lacuna era apenas saudade. Tão forte e tão frágil. Forte
ao ponto de doer na ausência. Frágil ao ponto de morrer no reencontro.
A chuva foi embora, as
lágrimas do meu rosto também. Meu corpo não sabia mais o que era suor ou
lágrimas do céu. Era uma mistura perfeita de alívio e satisfação.
Eu ali, apenas me permiti. E
agora me permito esperar até que, novamente, a saudade possa morrer ao te
reencontrar.
JOTA B
Que lindo... Me surpreendeu!!
ResponderExcluirAgradeço! O objetivo foi alcançado :D
Excluir👏👏
ResponderExcluir🥰🥰
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