terça-feira, 8 de janeiro de 2019

CURTI SUA FOTO



Cheguei no aeroporto e vi no monitor que o voo chegaria com algum atraso. Só serviu para aumentar um pouco mais a ansiedade que já tomava conta de mim nos dias que antecederam aquele encontro.

Nos conhecemos pela internet. Sorrisos e poses estáticos que mostravam um pouco da rotina. Comentários que davam pequenos sinais do que seria a essência. Era a impessoalidade com vontade de ser pessoalidade. As redes sociais permitem essas tentativas, no entanto nada substitui o “olho no olho”, o toque, o cheiro...

No aeroporto, a espera era composta de idas e voltas entre saguão principal e a área de desembarque. Mil pensamentos passavam pela cabeça, que iam desde a troca das primeiras mensagens até combinarmos passar alguns dias juntos. Aos poucos, a movimentação de pessoas próximas a área de desembarque aumentava. Conferi o monitor e lá informava que o avião estava em solo e que o desembarque já iniciara. O coração acelerado e a ansiedade de ver aquele sorriso eram visíveis.

Quando Ela enfim apareceu, o mundo ao meu redor perdeu o sentido. Pelo menos momentaneamente. Armou-se de olhar doce e sorriso que irradiava felicidade. Me desarmou completamente. Até havia ensaiado discurso, como se isso fosse me dar algum controle sobre a situação. Nada do tudo que pensei dizer, saiu naquele instante. Toda a expectativa, pensamentos, ansiedade e os pouco mais de mil quilômetros de distância entre nossas cidades foram interrompidos num longo e encaixado abraço. Os corações acelerados combinavam ritmos e se permitiam em beats compassados. Ainda abraçados, a troca de olhares pedia um beijo. O toque naqueles lábios macios, substituiu meses e meses de longas conversas madrugada adentro.  Nenhuma palavra havia sido dita até então. Apenas a pura reciprocidade no carinho do encontro.

No caminho para casa, conversamos sobre a viagem e a expectativa pela programação dos próximos dias. Como estávamos de férias, tratei de providenciar um roteiro que pudesse mostrar os lugares mais atraentes da minha região, além dos locais que eu mais gostava de frequentar. As extensas conversas pela internet permitiram saber que temos preferências em comum.

Chegando em casa, conduzi Ela até o quarto e a deixei a vontade para guardar suas malas, tomar um banho e descansar. Enquanto isso, prepararia o jantar. Já sabia que a correria da viagem não permitiria uma refeição decente, por isso procurei caprichar no cardápio. Obviamente o vinho não poderia ficar de fora.

Ela estava bem a vontade. Saiu do quarto vestindo roupão, deixando a mostra suas pernas bem torneadas. Os cabelos molhados estavam envoltos num turbante feito com uma toalha. Seus olhos sorriam livremente, sem esforço. Sentou-se e aproveitou o jantar enquanto dávamos risadas contando as situações mais inusitadas que ambos haviam passado na vida. A conversa fluiu solta e leve, como a vida deve ser.

Após o jantar, recolhemos as louças e tratamos de lava-las. Minha mania por organização não permitia que pudéssemos relaxar na sala enquanto houvesse louças sujas na cozinha. Ela, a vontade, me acompanhou. Enquanto conversávamos, eu lavava, ela secava. Simples assim. Em certos momentos, Ela se aproximava por trás, me abraçava, estendia sua mão até deixar molhar e, brincando, jogava água em meu abdômen. O jeito leve, o sorriso fácil e o carinho recíproco faziam aquele instante, mais que especial.

Sentamos no sofá, cada qual com sua taça de vinho. No ambiente, o som da música era testemunha das conversas divertidas que, aos poucos eram substituídas por trocas de olhares que se intensificavam a medida que a noite caía. Palavras eram quase desnecessárias. O desejo mostrava força através dos beijos que surgiram, misturando carinho, paixão e lascividade. Nossos corpos conversavam sem palavras. Encaixavam perfeitamente. Nossas mãos viajavam leves e intensamente pelos corpos quase nus, intercalando visitas as taças para que o vinho pudesse regar ainda mais aquela intensidade.

As conversas de vários meses via internet, deram lugar aos olhares que falavam por si. As telas do computador e do celular, ao toque. A distância, ao abraço. A vontade, aos beijos. Éramos um universo, dentro de um quarto do meu pequeno apartamento. Nossos corpos misturavam o suor e desejo, em movimentos completos. Os sons dos gemidos recheados de prazer, abafavam a música do ambiente. A madrugada assistiu, passiva. Nada poderia ser feito, a não ser viver.

Foram noites intensas e dias inesquecíveis. Momentos eternizados por entrega sem restrições. Na hora da partida, a promessa do reencontro. Diante do que se apresentava, os pouco mais de mil quilômetros se transformavam em pouco mais de cem.

E pensar que tudo isso começou com uma curtida despretensiosa, numa foto em redes sociais.


João Borges
Joinville/SC


PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...