segunda-feira, 23 de outubro de 2017

AS MELHORES COISAS DA VIDA SÃO GRATUITAS



Recentemente participei de uma Bienal do Livro em Pernambuco. Uma experiência maravilhosa, em muitos sentidos.

Sem patrocínios ou dinheiro para participar do evento, organizei uma campanha para vender meu livro, publicado em março deste ano (2017), sendo que a renda gerada serviria para arcar com os custos de tudo: passagem, hospedagem, estande, deslocamentos, envio de material para o evento e alimentação. Era um projeto ousado. Seria necessária a venda de, pelo menos, cem exemplares do livro para que o projeto fosse viável. Minha preocupação era estritamente financeira, já que a motivação para viver o clima da Bienal era muito elevada.

No âmbito pessoal, vivo um caos. Desempregado, tenho nas vendas eventuais do mesmo livro a única fonte de renda para me manter. Quem é autor independente sabe bem do que estou falando. Para quem não é autor independente, tente imaginar a certeza de suas contas vencendo, sem a certeza de que terá os recursos suficientes para paga-los.

Campanha montada, era hora de começar a fazer contatos, divulgar e espalhar a notícia. Tinha pouco mais de um mês para levantar recursos suficientes. Passei muitas horas nessa empreitada. Sacrifiquei um bom tempo para estar com meus filhos, acompanhar atividades deles, escrever o novo livro, enfim. Todo o esforço era necessário e concentrado para que o sonho de participar da Bienal de Pernambuco fosse realizado. Ainda, o dinheiro era a maior preocupação.

Os dias foram passando, os exemplares eram vendidos e os recursos iam sendo arrecadados. Infelizmente, ao final da campanha, não consegui chegar na meta. Na verdade, fiquei bem longe de atingir o objetivo, porém não me dei por vencido. Refiz os cálculos, retirei bagagem, fiz opções ainda mais baratas das que já tinha feito anteriormente. Ainda assim o arrecadado não era suficiente. Uma decisão era necessária: desistir era uma; seguir viagem, apresentar o trabalho e com o resultado das vendas na Bienal cobrir o que ainda faltava, era a outra.

Mais uma vez, ousadia. Decidi seguir viagem, porém a preocupação financeira ainda insistia em martelar a cabeça. Deixei para trás os abraços, beijos e sorrisos carinhosos dos filhos para partir rumo ao sonho.
Viagem realizada, troca de experiência com leitores e outros escritores, alguns livros vendidos e a certeza de que tudo o que havia feito anteriormente, não tinha sido em vão.

Resultado financeiro? Não obtive. Os livros vendidos antes e durante a Bienal não foram suficientes para que os custos fossem cobertos. O financeiro ainda está martelando a cabeça. Se antes estava difícil, agora está mais.

Ainda assim existem as compensações. Ao retornar da viagem, recebo os melhores presentes do mundo. Cheguei em casa e meus filhos ainda não tinham vindo da escola. Fiquei esperando dentro do carro. Quando ao longe me avistaram, saíram correndo e me deram os abraços, beijos e sorrisos mais sinceros que poderiam existir. Ah, aquele carinho todo. É capaz de afogar todas as preocupações numa fração de segundo. Não que esteja sendo relapso com as obrigações que ainda restam. Longe disso. Mas aquele momento não poderia - nem deveria - ser dispensado. É único, verdadeiro, arrebatador. Daqueles que te arrastam de uma tormenta e carregam a um lugar seguro. 
É o tipo de gesto que não tem preço, é gratuito, mas tem um valor imensurável.


De tudo o que o dinheiro pôde pagar, das experiências vividas, e daquilo que ainda precisa ser pago, o melhor ainda é gratuito. 


João Borges, escritor.
Joinville/SC

PERDI A CONTA

  Eu já perdi a conta das vezes que tentei te descrever. Faltou vocabulário. Faltaram adjetivos. Sobraram qualidades em meio aos defeitos...